Dona Ivone gira
Por Fernando Molica em 17 de abril de 2018 | Comentários (0)
Perdi a conta das vezes em que, nessas tantas rodas, girei os braços para marcar os versos que viravam e reviravam meu avesso, que citavam a tristeza que rolara nos meus olhos e que afivelara o peito ferido pela faca-lâmina tão afiada, traduzida na música de Dona Ivone Lara e na letra de Hermínio Bello de Carvalho. Rodei tanto, pra lá e pra cá, idas e vindas, caminhos que iam, que voltavam, que se refaziam, que insistiam. Mas quem disse que te esqueço, mas quem disse que eu mereço? Um merecer, noto agora, dúbio: queixa que remete a uma dor imensa, mas também gozo que comemora, surpreso, um grande prazer – quem disse que mereço tanto? Desde que o samba é samba é assim, o samba roda, o samba gira, o samba é jira. Dona Ivone me ajuda a girar, a seguir.