Em livro, jornalista revela nomes de seus agressores
Por Fernando Molica em 13 de maio de 2021 | Comentários (0)
Essencial para que possamos ter uma noção do submundo de parte da política brasileira e da engrenagem de assassinato de reputações, o livro “A máquina do ódio”, da jornalista Patrícia Campos Mello, traz informações curiosas sobre alguns dos, digamos, operários que ajudam a fazer com que tal máquina funcione.
São aqueles homens e mulheres que vomitam preconceitos e xingamentos nas redes sociais. Incapazes de argumentar, de discutir, consideram-se iluminados apenas pela capacidade infantil de escrever palavrões. Comportam-se nas redes como em arquibancadas, procurando, com suas ofensas, despertar a admiração dos chefes de torcida.
Em meio a dados sobre a perseguição sofrida desde que revelou um esquema ilegal de disparo de mensagens favoráveis ao então candidato Jair Bolsonaro, Patrícia reserva algumas linhas para tratar de agressões de baixa patente.
É quando ela frisa que alguns dos agressores usaram, aparentemente, suas identidades verdadeiras. Como Bruno Pires, ex-estudante de Direito da Universidade de Rio Verde (GO). Em mensagem dirigida à repórter, ele perguntou se ela queria “dar a boceta para ver o notebook” de uma de suas fontes (Hans River do Rio Nascimento que, na CPI das Fake News, acusou Patrícia de assédio sexual para obter informações). O ex-universitário, puxa vida, sabe o que é uma boceta.
Gilberto Veiga que, em seu perfil no Facebook, mostrava uma foto de sua mulher com o filho pequeno, atuou no mesmo nível de perspicácia. Perguntou a Patrícia se ela raspava “seus pelinhos”.
No Instagram, matheus.schuler usou um mote usado pelo presidente da República – que seria condenado em processo movido por Patrícia – e aconselhou a jornalista a ter “cuidado ao oferecer o furinho”.
Mulheres entraram no bloco. PalomaSolna23 chamou a repórter de “quenga”, “vagaba” e sugeriu que ela procurasse outra pessoa para dar “esse furo, ou furico”. Todos pareciam se vangloriar pela suposta esperteza de associar o furo jornalístico à anatomia feminina.
Ao levar nomes de agressores para as páginas de um livro, Patrícia os retira do anonimato proporcionado pela multidão. É como se ela atuasse como aquelas câmeras que, nos estádios, flagram torcedores fazendo gestos eventualmente constrangedores.
Eles são assim identificados, perdem o manto protetor da covardia coletiva, são expostos, arriscam-se a figurar como processos criminais e cíveis – sabem que, nessa hora, não terão a proteção dos chefes de torcida.
Bruno, Gilberto, Matheus, Paloma, não tive o menor prazer em conhecê-los. Mas é bom saber que, assim, individualizados, retirados do coro dos linchadores morais, vocês ficam assim, frágeis, expostos. Os xingamentos covardes dirigidos a Patrícia dizem muito sobre vocês e demonstram de maneira evidente os seus preconceitos e limitações.