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Escolas, patronos e profissionalização


Por Fernando Molica em 27 de fevereiro de 2013 | Comentários (0)

Coluna Estação Carioca, jornal O DIA, 20/02:

Rio – A profissionalização do Carnaval, em particular das escolas de samba, esbarra numa espécie de pecado original, a falta de tradição democrática em quase todas elas. Basta dar uma olhada nas que compõem o Grupo Especial. É fácil associá-las a padrinhos, aos tais homens fortes que agiram e agem como se fossem seus donos. Uma situação que, de certa forma, replica um viés autoritário da sociedade brasileira. Movida por carinho e/ou por outros interesses, esta dedicação atrapalha uma administração mais eficiente dessas agremiações.

Em busca de proteção social e prestígio, muitos bicheiros seguiram o caminho desbravado por Natal na Portela e abriram os cofres para as escolas. Este foi um dos fatores determinantes para a ascensão, nos últimos anos, da Vila Isabel. Ter um contraventor para chamar de seu ajuda muito nos desfiles, mas também gera problemas.

A morte ou aposentadoria dos poderosos chefões tende a minar a situação das escolas por eles protegidas — é só acompanhar a decadência da Mocidade Independente, que, apesar do orgulhoso nome, viveu seus momentos de glória quando dependia de Castor de Andrade. O último campeonato da escola foi em 1996, um ano antes da morte do patrono. Muita gente em Nilópolis teme pelo futuro da Beija-Flor, unha e carne com Aniz Abrahão David, o Anísio. Mas não são apenas os bicheiros. Não são incomuns os casos de dirigentes sem ligações com a contravenção, que, de tão longevos no comando, acabam se confundindo com as escolas.

Não tem jeito: a existência de pessoas com poderes excepcionais nas agremiações aumenta a possibilidade de problemas e facilita o uso descontrolado de verbas. Ditaduras, ainda que consentidas, são incompatíveis com a transparência. A presença dos patronos acirra os ânimos do Ministério Público, constrange investidores, cria problemas para a prefeitura e inibe a maior participação das comunidades nas escolas. O jogo está feito. No momento em que um outro poder paralelo tenta reeditar a saga dos bicheiros e se assanha para aprofundar sua presença no samba, cabe ao poder público criar mecanismos que estimulem a democratização e a transparência neste universo, patrimônio fundamental do Rio e do país. A mudança é importante até para valorizar o sambista e garantir a sobrevivência e o crescimento do espetáculo.

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