Estação Carioca
Por Fernando Molica em 06 de outubro de 2010 | Comentários (2)
Caros, peço desculpas pela longa ausência – a vida anda corrida demais, não tenho conseguido atualizar o blog. Pior: só hoje vi alguns comentários relacionados ao post sobre o Antônio Torres. Como o Hotmail não me avisou da chegada deles, só hoje consegui aprová-los e publicá-los. Perdão pela indelicadeza.
Bem, volto ao blog graças ao artigo que marca o início da minha coluna semanal em ‘O Dia’, a Estação Carioca. Aí vai ele. Abraços.
Aha, Uhu – O Maraca é deles
Domingo à tarde, um trem partirá desta nova Estação Carioca rumo ao Bar Dezoito, ali em frente ao Maracanã. Tudo para acompanhar a criação da Associação Nacional dos Torcedores, que se propõe a defender quem sofre, vibra e se esgoela nas arquibancadas. A ideia é do historiador Marcos Alvito, que anda preocupado com a elitização do futebol e com a transformação do Maracanã numa versão esportiva dos cinemas multiplex.
Para atender a exigências da Fifa, mandaram o Maraca emagrecer e fazer uma espécie de plástica. Nosso querido estádio foi parar num spa, hotéis em que se paga uma fortuna para passar fome e perder peso. O campo que Garrincha santificou encolherá: para a felicidade dos retranqueiros, perderá 5 metros no comprimento e 7 metros na largura. O estádio que já recebeu 200 mil pessoas vai virar uma arena para 76 mil privilegiados. É como se a Mulher Melancia se transformasse numa dessas impegáveis modelos anoréxicas. No lugar da feijoada, nos servirão um filé de frango com alface. Como o número de lugares diminuirá, os preços de ingressos tendem a aumentar ainda mais.
O Maracanã foi deixando de ser a nossa casa. O fim da Geral demonstrou, mais uma vez, o jeito brasileiro de mascarar nossas escandalosas diferenças sociais: jogou-se a pobreza para debaixo do tapete, no caso, para fora do estádio. O Geraldino perdeu lugar na nova ordem do futebol. As cadeiras azuis são a bola da vez, darão lugar a um novo setor, uma continuação das arquibancadas. A mudança não respeitará nossas referências, tudo ficará cinza, não haverá mais setores verde, amarelo ou branco.
A lógica da reforma é a mesma que transformou o futebol, nosso brinquedo favorito, num grande negócio. Estádio passa a ser lugar de rico, público vira figurante de TV e moldura de placa publicitária. O torcedor comum que dê um jeito para arrumar o dinheiro do ingresso, que sofra para conseguir transporte ao sair do estádio depois da meia-noite. Ou então, que se conforme em ver jogos pela televisão. Como diz o Alvito, futebol virou sobremesa de novela.
Rubro-negro, o historiador lamenta até o provável fim da cruel gozação dirigida aos torcedores do seu time. A expulsão dos pobres do Maraca tornará sem sentido o grito “Ela, ela, ela, silêncio na favela”. Afinada com os novos tempos, esta Estação sugere alternativas: “Ema, ema, ema, tristeza em Ipanema” ou “Bom, bom, bom, silêncio no Leblon”.
Sim, todas as quartas.
Fernando MolicaColuna semanal?
Marcelo Moutinho