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Ética e democracia nas arquibancadas


Por Fernando Molica em 08 de junho de 2009 | Comentários (2)

Isso talvez ajude a explicar as discretas, senão medíocres, participações do Botafogo nos últimos campeonatos e torneios. Pesquisa do Ibope encomendada pela agência Blinder revela que os alvinegros são (somos), entre os torcedores dos times cariocas, os mais solidários e os que mais se dizem ligados a alguns princípios éticos. Vejamos alguns trechos da pequisa, publicada, domingo passado, por “O Globo”.

. 47% dos torcedores do Vasco concordam com a frase “O mundo é dos mais espertos”. Entre tricolores e rubro-negros, os percentuais de concordância são, respectivamente, 40% e 38%. Entre os que torcem pelo Botafogo, o percentual é de 33%.

. 40% de vascaínos e flamenguistas aceitam a seguinte formulação: “Eu me preocupo primeiro comigo, depois com os outros”. O percentual de tricolores que se identificaram com esta definição foi de 35%; de alvinegros, 34%.

. Outra frase: “As pessoas deveriam ajudar mais a resolver os problemas sociais”. Entre os rubro-negros, a concordância é de 83%; entre vascaínos e tricolores, o percentual sobe um pontinho, 84%. Já no caso dos alvinegros, o índice dispara para 93%.

Bem, é claro que os resultados podem ser questionados. Nem sempre quem se diz ético se comporta como tal. De qualquer forma, fico orgulhoso com o resultado. Mas, sei não, temo que esses números confirmem uma tendência, um sentimento que tem me angustiado. No fundo, temo que nós, alvinegros, estejamos ficando meio velhos, meio fora do compasso, do ritmo do jogo que tem sido jogado. O que, diga-se de passagem, não chega a ser ruim. Há um momento em que é bom dizer que não se quer mais brincar.

O jogo – o futebol e tudo que o cerca – tem ficado meio avassalador: a mesma pesquisa revela que torcedores do rubro-negro representam inacreditáveis 58% da população carioca (não faz muito tempo, o percentual era de 50%). Isso, mais do que uma preferência clubística, revela uma lógica que segue na direção de um pensamento único, de uma hegemonia que zomba de quem não faz parte dela. Outro dia, um amigo escritor, gaúcho recém-chegado ao Rio, se dizia assustado com os flamenguistas que praticamente o constrangiam a adotar a simpatia pelo rubro-negro. “Aqui no Rio, você tem que ser Flamengo”, diziam.

Sei não, a história revela que a tendência à unanimidade nunca dá certo, sempre deságua em algum fascismo. A diversidade – de idéias, de comportamentos, de visões de mundo – é que produz um certo equilíbrio. Somos todos arrogantes e vaidosos demais, tendemos ao autoritarismo, precisamos do contraditório para segurarmos nossas pontas. Pior, em grupo somos mais propensos à covardia, à prática de humilhar o diferente, aquele que não se enquadra, que se recusa a entrar na corrente pra frente.

Em resumo: a avalanche rubro-negra é uma ameaça à democracia.

Obs: o amigo gaúcho, colorado de coração, adotou o Botafogo aqui no Rio.

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Comentários
17 de junho de 2009

Sem dúvida, meu caro. Os rubro-negros acabam sendo cultivados, formam um contingente que não pode ser desprezado. Outro detalhe: a geração Zico (os jovens que cresceram quando o Flamengo tinha aquele timaço) chegou ao poder nas redações. A imprensa, que já foi alvinegra (Saldanha, Oldemário, Sandro Moreyra) hoje é rubro-negra. abs.

Fernando Molica
17 de junho de 2009

Prezado Molica. Curioso seu post sobre futebol. Mas não me espanta esta adesão de peso ao Flamengo (não é o meu caso, ressalto logo, sou tricolor). A imprensa, de olho nas vendas, tenta transformar qq coisa q envolva o Flamengo em algo espetaculoso, que chama a atenção e mobiliza ainda mais a atenção. Os demais clubes cariocas, para nosso desespero, ficam nesta historinha de perder na final para os timecos horrorosos do Flamengo - os últimos tri-vices de Vasco e Botafogo já entraram para a história. Em suma, fatores como esses (não são os únicos, é claro) contribuem e muito para o inchaço daquela torcida. E daí só podemos lamentar. E cobrar de nossos 'dirigentes' a montagem de times sérios e eficientes para quebrar esta tradição que anda vigorando por aqui.

Paulo Gramado