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Faixa


Por Fernando Molica em 29 de maio de 2009 | Comentários (0)

Em comentário ao post anterior (leiam!), o bravo Zé Sérgio, dono do ótimo blog “Quem é vivo sempre aparece”, conta como as tiras de papel de seu eletro viraram faixa de campeão em 89. Lembrei então do triste destino de minha faixa de campeão carioca, comprada na saída do Maracanã.

O jogo terminou tarde pacas, não havia táxis nem ônibus. Como o Chico não apareceu, eu não tinha com quem beber. Não havia combinado nada com ninguém – até porque alvinegro não combina comemorar título que ainda não ganhou. Na época, vale lembrar, não havia celular. Saí do estádio e comecei a caminhar na direção de casa, morava no Grajaú. Passei ali pela Universidade do Chopp que existia na Tijuca, bebi um pouco, comemorei – e segui a pé para casa, feliz da vida com a faixa de campeão no peito.

Eis que, ao passar diante do Quartel da PE (aquele mesmo, o das torturas), na Barão de Mesquita, vi no horizonte a aproximação de um grupo de jovens. Uns 50 caras. Mais: uns 50 sujeitos em cujas camisas predominavam as cores preta e vermelha. Ou seja, eu caminhava em direção a um bando de rubro-negros, rubro-negros irritados por terem perdido um título para o Botafogo (no time deles, dirigido por Telê Santava, havia jogadores como Zico, Bebeto e Leonardo).

Fazer o quê? Havia uma rua à direita, poderia ter tentado escapar por ali. Achei meio perigoso, os caras poderiam vir atrás de mim. Optei pelo tudo ou nada: entrei no meio da turba. Logo de cara, um sujeito puxou a minha faixa e eu, acreditem, tentei protestar. Um segundo gritou algo como “mete a porrada nesse mané” – uma sugestão que, achei, repercutiu bem no grupo. Quando eu já me preparava para apanhar ou para ensaiar um discurso sobre a paz universal e a irmandade entre os povos, um dos sujeitos, um curioso e raro exemplar de rubro-negro sensato, gritou:

– Deixa o cara ir embora, porra!

O sujeito tinha prestígio, a sugestão foi acatada. Eu, feliz da vida com o título e com o alvará de soltura, ainda cometi a besteira de recuperar a faixa, perguntei por ela. Mas o tal rubro-negro sensato demonstrou que era até mais sensato do que eu. Virou-se para mim e disse:

– Mermão, tu tá no lucro. Vai embora.

Segui o conselho e fui para casa onde, feliz da vida, dei um beijo de campeão no meu então único filho, que tinha dois anos de idade.

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