Fatos que são contextos
Por Fernando Molica em 29 de abril de 2017 | Comentários (1)
Há fatos capazes de criar o próprio contexto, de tão significativos que são. Dos episódios ocorridos ontem no Rio, durante manifestações relacionadas à greve geral, dois são bem simbólicos: a foto que mostra PMs em posição de ataque ao lado da Biblioteca Nacional e a descoberta, no Theatro Municipal, de restos de 22 bombas e de três balas de borracha lançadas/disparadas por policiais (havia também duas pedras).
Os PMs formados ao lado da biblioteca foram flagrados pela fotógrafa Ana Carolina Fernandes ao lado de uma placa que expunha texto de Ana Maria Machado. Nele, a escritora diz que um sistema que facilita o acesso aos livros “estimula a imaginação e alimenta as defesas contra o autoritarismo e a opressão”. A presença de bombas e balas num outro patrimônio cultural brasileiro, o Theatro Municipal, dispensa qualquer comentário.
Na manhã deste sábado, outro fato triste e simbólico, a morte da radialista Liza Carioca, uma das vítimas do acidente com carro alegórico da Paraíso da Tuiuti no Carnaval. Sim, morreu uma jornalista que escolheu para seu sobrenome profissional o gentílico que designa aqueles nascidos no Rio.
No fim das contas, sobram retratos trágicos e quase caricaturais que ilustram as condições em que PMs marcam presença na nossa maior biblioteca e no nosso principal teatro e que ressaltam mais uma morte carioca – uma vítima de nossa maior festa, a que melhor nos traduz.
Uma carioca como a estudante Maria Eduarda, como o motociclista Miguel Ayoub, como os moradores do Alemão Felipe Farias de Souza, Bruno de Souza, Gustavo Silva e Paulo Henrique; como o PM Alex Francisco de Carvalho, atropelado por bandidos que tentava interceptar. Todos vítimas da insanidade e da irresponsabilidade que vicejam entre nós.
onde está a foto da Ana Carolina Fernandes?
RONALDO FRAZAO