Fotos de uma exposição
Por Fernando Molica em 04 de janeiro de 2019 | Comentários (0)
As três fotos, todas do Walter Firmo, estão agrupadas numa mesma parede. Numa, uma baiana desce o Morro da Mangueira; na outra, crianças brincam de mestre-sala e porta-bandeira (a menina usa uma vassoura como mastro); a terceira é tomada pelo no sangue que jorrara da mão do ritmista e que colore o surdo.
As imagens, que integram a exposição O Rio do Samba – resistência e reinvenção, são líricas, belas, emocionantes. Resumem e expandem os saberes, paixões e valores que formam o universo da cultura brasileira. Nelas nos reconhecemos, nos encontramos. Em tempos tão difíceis e cruéis, as fotos nos reconciliam com a nossa história e apontam para um futuro que só será bom se souber respeitar o seu passado, o nosso passado.
Não brinquei de mestre-sala, não desci morro fantasiado, não sei sambar ou batucar. Mas, ao longo da vida, soube aplaudir e me emocionar com quem fez isso por mim – pessoas que, de certa forma, fizeram tudo isso tudo comigo, do meu lado. As imagens tratam de alegria, de reverência, de entrega e de fé – sim, fé além da religiosa, fé em deuses que cantam, dançam e que se incorporam no cotidiano de todos que brincam, trabalham e sonham com um mundo melhor.
A exposição, lotada de imagens e de outras peças igualmente impactantes, fica no Museu de Arte do Rio até o fim de março. É imperdível, essencial. É de deixar a gente tonto, de encher nossos olhos de beleza e de lágrimas.