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PONTOS DE PARTIDA, O BLOG DO MOLICA

Homenagem


Por Fernando Molica em 25 de outubro de 2011 | Comentários (0)

Um desabafo do jornalista Ricardo Menezes, personagem do romance ‘O ponto da partida’ (Record, 2008).

Eu sou de uma geração que começou a pegar pesado com a polícia. Não dava ainda pra bater de frente com o Exército, com as Forças Armadas. Então, a gente aproveitava e descia o cacete na farda que estava mais próxima, e tome porrada na PM que, diga-se de passagem, sempre colaborou com a gente, sempre fez muita merda. O sindicato dos jornalistas deveria agradecer à briosa corporação pelas ótimas matérias que, ao longo dos anos, seus integrantes sempre nos proporcionaram. Lembra daquela mulher, como é mesmo o nome dela? Aquela que encarou um batalhão inteiro pra tentar descobrir o soldado que matou o irmão dela? Pois é, eu tava lá. Foi arrepiante ver aquela mulher, negra, pobre, olhando a cara dos policiais, todo mundo formado no pátio do batalhão. E ela lá, encarando um por um. A foto é espetacular. Depois teve aquele outro caso, dos PMs que prenderam uns pobres pelo pescoço com uma corda. Todos negros, claro. Parecia uma imagem de Debret. O Morier fez a foto, eu trabalhei na suite. E tome porrada. Mas isso era na época em que falar em direitos humanos dava prestígio. Hoje, se falar muito nisso você leva porrada. O editor pede pra ir devagar, que a criminalidade tá foda, que tem que segurar um pouco a onda, que não pode pegar muito no pé da polícia. Fora o leitor que enche o jornal de e-mail cada vez que a gente mostra um policial esculachando um bandido, um suspeito de ser bandido. Claro, tudo pobre, tudo preto. E a gente acaba se contaminando com isso, meu caro.

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