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Ideário Ninja 1


Por Fernando Molica em 08 de setembro de 2013 | Comentários (17)

3’04: “Falei pra ele ir embora, que ia dar confusão. Ele não quis (…). Arriscando a vida por alguma matéria. É foda. Garoto novo, garoto novo, quer ganhar espaço na mídia, tá fazendo essa parada. Quer dar espaço para materiazinha boa, quer ganhar dinheiro, fazer nome na mídia tradicional. Não pode”.

Essa sucessão de asneiras foi dita por um sujeito da Mídia Ninja. Isto, ao testemunhar a agressão ao repórter Júlio Molica (sim, é meu filho), ontem, durante a manifestação ocorrida no Centro do Rio. As frases revelam uma espécie de ideário dos ninjas e de seus cúmplices que não têm coragem de mostrar o rosto, os integrantes do tal movimento Black Bloc.

Vejamos: os caras não querem simplesmente ocupar as ruas. Querem que o espaço público seja apenas deles. Consideram-se, portanto, mais cidadãos do que outros. O repórter da GN não estava cobrindo uma manifestação em ambiente fechado, estava na rua. Mas, para os MN-BB, ele não poderia estar ali. Mais, assumem que estar ali – trabalhando – representava um risco de vida. Um risco de vida, repito.

As palavras do ninja poderiam ter sido ditas pelos traficantes que assassinaram o Tim Lopes, pelos milicianos que, há cinco anos, torturaram uma equipe de O DIA no Batan ou por militares da época da ditadura incomodados com alguma apuração: “Arriscando a vida por alguma matéria”, “Quer ganhar espaço na mídia”, “Quer ganhar dinheiro”, “Não pode”.

O que não pode, é que vocês, MN-BB, tenham o direito de definir quem pode ou quem não pode estar na rua, quem pode ou quem não pode cobrir uma manifestação que ocorre em espaço público. O que não pode é que vocês tentem impor apenas uma versão dos fatos. Quem diz defender o pluralismo e, por conta disso, condena TVs e jornais, não pode temer outras visões. Esta atitude revela o quanto vocês, que dizem combater o autoritarismo, são autoritários, ditatoriais e antidemocráticos.

Vocês comportam-se como o que são: meninos mimados e violentos que não suportam o contraditório, que não admitem ser contrariados. Reclamam – com razão – da violência policial, mas não aceitam ser confrontados com a violência que provocam. Rejeitam ser classificados de vândalos mesmo diante do vandalismo que, muitas vezes, provocam. Contestam o rótulo de fascistas mesmo quando reproduzem o comportamento que marcou a atuação de militantes de grupos de extrema direita. Não pode.

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Comentários
05 de outubro de 2013

Carlos, há mais de 30 anos que, em minhas matérias, critico a violência policial - por uma delas, até ganhei um prêmio Vladimir Herzog, o que muito me orgulha. Mas criticar a violência policial não significa ignorar a praticada por outros setores da sociedade. Porrada dói do mesmo jeito, pergunte a quem apanha.

Fernando Molica
05 de outubro de 2013

Insisto, Cesar, criticar a atitude tomada pelo cara do MN não sigfica apoiar a PM. No mais, é complicado generalizar, falar "a imprensa", "os políticos", "os gays", "os hétero", os isso, os aquilo. O mundo é contraditório, feito por pessoas, cada um que responda por seus atos.

Fernando Molica
05 de outubro de 2013

A polícia não teve nada a ver com a história. Melhor, depois de acionada, ajudou a resgatar o Júlio, já então protegido por manifestantes mais conscientes.

Fernando Molica
05 de outubro de 2013

Cecília, na boa, sua coleção de chavões é quase emocionante ("A grande mídia há décadas chafurda no discurso hegemônico para perpetuar a opressão e criminalização dos nossos pobres, pretos, trans, índios, mulheres, periféricos e movimentos sociais"). Você deve mesmo acreditar que o mundo é um grande Fla-Flu, bonzinhos de um lado, malvados do outro. Falo de dialética, de conflito, de contradições inerentes à história. E, individualizando a questão, em mais de 30 anos de trabalho como jornalista, não me reconheço como praticante de nenhuma das opressões que você elencou. É mentira negar o papel que a imprensa tradicional tem e teve na propagação de ideias que permtiram uma série de avanços - eu soube do Marcos Feliciano pelos jornais, acredito que você também. No mais, ao contrário de você prego o pluralismo, acho que novas formas de comunicação como o MN são fundamentais para a democracia, é importante abrir caminhos e vozes. Mas é importante não considerá-las excludentes. Eu defendo mais vozes, inclusive as com as quais não concordo. Na sua democracia, só entram os que concordam com você. Você tem mesmo discurso dos ricos, brancos, homofóbicos, latifundiários e machistas, apenas inverteu o sinal.

Fernando Molica
13 de setembro de 2013

De extrema direita e de extrema esquerda. Concordo contigo em gênero número e grau!

Carlos
11 de setembro de 2013

Será que esse "não pode" teve o sentido de "não vale a pena"? A mídia ninja, até onde sei, não é a mesma coisa que os black blocs. Mesmo achando que "não pode" ganhar dinheiro com o jornalismo, achar errado "fazer nome", o MN que falou isso não tentou proibir ou atrapalhar o trabalho do repórter tradicional, ou tentou? ter uma opinião contrária ao pensamento da mídia tradicional não é facismo por parte dele. Até onde sei, ele não escreveu uma matéria rechaçando o repórter, apenas expressou sua opinião pessoal para as pessoas a sua volta. Sei que está revoltado pela agressão ao seu filho. mas a culpa é do reporter ninja ou do despreparo da polícia?

Guilherme
11 de setembro de 2013

Reclamação de quem perdeu privilégios e é, finalmente, contestado pela multidão de que, até então, podia manter uma distância segura de sujeito-objeto. A grande mídia há décadas chafurda no discurso hegemônico para perpetuar a opressão e criminalização dos nossos pobres, pretos, trans, índios, mulheres, periféricos e movimentos sociais e trabalha diligentemente para impedir que vozes contra-hegemônicas se levantem. Agora que o povo tomou as ruas vocês ressentem a multidão que estavam habituados a domesticar. Não sabe o que é estratégia Black Bloc, não sabe como são eles e elas os únicos nas ruas a proteger os manifestantes: não sabem porque sequer pegaram o bonde da história andando, não estão na rua pra vê-lo passar. O que resta é isso mesmo, reclamação infantil, amargura, criminalização de movimento popular. E as mídias que estão na rua agora são ninjas com minúsculo, excederam e transbordaram o fenômeno MN, dezenas de coletivos independentes que nos ajudam a construir a democratização e o pluralismo midiático que a classe de gente da qual você e o seu filho fazem parte nos negam. Agora, como em gente da sua estirpe não resta nem uma fagulha revolucionária, o que lhes cabe é o que está feito nesse patético artigo: senta e chora.

Cecilia
10 de setembro de 2013

Além de jornalista, trabalho como diretor de literatura de uma fundação cultural na Paraíba. Os representantes do Fora do Eixo em João Pessoa são intolerantes e já fizeram passeata (com pouca gente, mas não pacífica) contra a fundação porque querem MANDAR em nosso orçamento e em nossas ações. Você sabe que o Fora do Eixo e a Mídia Ninja são irmãos gêmeos.

Carlos Aranha
10 de setembro de 2013

100% de acordo. Como é fazer manifestação DEMOCRÁTICA sem mostrar o rosto??? Que CARA tem isso???

Paulinho Mineiro
09 de setembro de 2013

Fernando. Sou espectador da Mídia Ninja. Acompanhei o momento desse acontecimento, e quero em primeiro lugar prestar solidariedade ao seu filho, assim como a maioria, repudio tais atos, e repudiei as falas desse tal ninja (não lembro bem qual foi por isso não citarei nomes), creio que foram palavras impensadas, afinal os protestos também são contra a manipulação das notícias na Globo, não só na Globo, como em todas as mídias tradicionais, e contra alguns programas, como novela, onde se mostra cada vez mais pessoas fazendo coisas erradas, falsidade entre familiares, nudez gratuita, e etc., em horário impróprio. Espero, de coração, que seu filho se recupere de tal trauma, e que ele tenha sucesso na vida. Até onde sei a Mídia Ninja não possui vínculo com o Black Block, e estão sim, revolucionando a nossa mídia, sem manipulação da informação. No momento cobrem protestos, afinal, ninguém mais está cobrindo de forma a mostrar a verdade, mas abriram portas para que futuros projetos apareçam. Sucesso, e melhoras para o Júlio.

Rafael Beguito
09 de setembro de 2013

´Tende piedade das pequenas famílias suburbanas E em particular dos adolescentes que se embebedam de domingos Mas tende mais piedade ainda de dois elegantes que passam E sem saber inventam a doutrina do pão e da guilhotina´

Marianne
09 de setembro de 2013

Bravo! Fiquei comovida ao ver o seu filho sofrer aquelas agressões. A reportagem dele ficou muito boa.

Leila
09 de setembro de 2013

E isso tudo com a conivência das autoridades de plantão. Não perceberam que a ditabranda já se instalou??

Anonimo
09 de setembro de 2013

Concordo, são milicianos, verdadeiros cangaceiros do asfalto e idealizados por professores universitários e outros ditos intelectuais.

Maria Monteiro
09 de setembro de 2013

Espera um pouco! Ao inves de reclamar da atitude dos policiais descendo a borracha na rua vc vai reclamar dos ninja e BB???? Ahhh, grande discernimento seu da atualidade brasileira.Espero que seu filho, reporter, nao leia isso senão ele pode achar que seu pai está certo!! Como onde ele trabalha que só fala em vandalos.

Carlos
09 de setembro de 2013

Se texto é ótimo...,mas quem mandou bala de borracha e bomba na cara de "algumas pessoas" não foram os Black Bloc muito menos a Mídia Ninja...aliás quem expulsa os jornalistas da Globo e da Record foram as próprias pessoas que estavam na rua...é mais fácil apontar o dedo na cara de um moleque insatisfeito com o que está ae e que a porcaria da imprensa que está fez parte disso... do que olhar para si e para sua instituição na qual vc defende .

Cesar
08 de setembro de 2013

Infeliz ideia e infelizes os que por uma indução utópica, resolveram posar de BB nas redes e outros pelas ruas de nossas cidades...

Mário Morais