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‘Leia’, recomenda Nelson Vasconcelos


Por Fernando Molica em 16 de outubro de 2021 | Comentários (0)

Jornalista, escritor, resenhista pra lá de sensível e competente, Nelson Vasconcelos publicou no Facebook este texto sobre ‘Elefantes no céu de Piedade’,

Foi mais ou menos em 1974. Os Secos&Molhados estavam bombando e havia também aquele clima de Copa do Mundo, essas coisas. Eu tinha 7 anos, por aí. Vi quando meu pai convidou um primo dele para vir morar com a gente. O cara queria prestar concurso pro Banco do Brasil. Isso foi em Santarém, interior do Pará, que na época era ainda mais longe do Rio. Ele veio. Não sei quantos anos tinha. Talvez 20, ou 25, não sei. Também não sei quanto tempo ficou lá em casa, mas lembro que passou para o BB, teve festinha.

Um dia ele sumiu, desapareceu, escafedeu-se. Sem aviso prévio. Quando voltei da escola, fim de tarde, minha mãe falou que ele tinha saído levando a mala, mal se despediu dela. Meu pai ficou triste quando soube. O primo sequer deu tchau pra ele – agradecer, muito menos. Foi-se. Esqueci o nome dele, e que se dane.

A gente que é moleque curioso ouve muita coisa, bate as conversas alheias no liquidificador, mistura tudo, fica imaginando coisas. Foi assim que um dia misturei essa parábola do primo ingrato com as histórias de sumiço de militantes políticos, torturas etc e tal. Bem anos 1970. De vez em quando pensava nessa história: estudante do interior é cooptado pela esquerda para tocar la revolución através da luta armada – e esse “terrorista” tinha que ser justamente o cara que morava lá em casa. Emocionante.

Bom. Esses e outros casos meus daquela época, que sinceramente estavam no fundo da minha memória perneta, me vieram à tona ontem, ao fim da leitura do “Elefantes no céu de Piedade”, do camarada Fernando Molica. O livro será lançado hoje, mas não resisti e li antes, tô nem aí. Baita Bildungsroman, um romance de formação, uma narrativa mostrando o mundo pelo olhar de uma criança. O Molica explica tudo aí no vídeo em anexo. Meu recado é: leia.

Com frequência, esses romances de formação saem meio imbecilizados, porque pessoal escreve quase no tatibitate, com a chupeta metida na orelha – confundem o lúdico com algo infantiloide e acham isso bonito. Não é o caso desse “Elefantes…”. É um retrato bem cuidadoso de uma época e um cenário importantes para o Rio de hoje. E o melhor: baseado em fatos, que frequentemente são mais criativos que a ficção.

À parte isso, fico muito feliz por ter usado a palavra Bildungsroman. Ganhei meu dia.

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