Literatura e política
Por Fernando Molica em 28 de março de 2016 | Comentários (0)
Reportagem do ‘Correio Braziliense’ escrita por Nahima Maciel e publicada no domingo trata de livros que abordam a situação política do país. Entre eles, ‘Uma selfie com Lenin’:
Literatura que reflete sobre o Brasil de hoje é resposta de escritores
Em romances contemporâneos, a política também ganha destaque
É raro a literatura refletir tão rapidamente sobre a conjuntura política e gerar imediatamente bons produtos, mas aconteceu. As manifestações de 2013 e 2014, os escândalos de corrupção e como a mídia lida com o poder são temas de dois romances recém-lançados.
Fernando Molica faz questão de explicar que Uma selfie com Lenin não trata diretamente da situação política do país, mas foi influenciado por ela. “A vida dele se mistura com temas mais tradicionais, como a corrupção, e com outros mais recentes, como as manifestações de 2013 e 2014. Na época, assim como acontece agora, é difícil pensar que alguém deixe de ser influenciado por questões mais gerais. Quase todos somos, de um jeito ou de outro, influenciados pelos fatos tão amplos que explodem todos os dias. O personagem não escapou disso”, explica. Problemas profissionais, éticos e amorosos rondam o jornalista que parte em uma viagem e escreve uma carta à ex-namorada e ex-chefe. Foi servindo a políticos que o personagem conseguiu algum sucesso, assim como um certo fardo ético.
Molica tem 55 anos e acompanhou todos os momentos políticos mais importantes do país nas últimas décadas, mas não lembra de uma situação tão grave quanto agora, com tanta radicalização e intolerância. “Nem na Anistia, no Riocentro, nas Diretas Já, no segundo turno entre Collor e Lula”, garante. “O resultado apertado da eleição de 2014, a roubalheira revelada pela Lava Jato, os excessos cometidos pelo juiz Sérgio Moro e oportunismo de políticos e de outros setores da sociedade parecem ter liberado uma raiva que estava represada. É assustador que o país tenha se transformado em um palco de guerra de torcidas, voltamos à lógica do Ame-o ou Deixe-o da ditadura. Democracia pressupõe convivência dos contrários, aceitação das diferenças”.
Para André de Leones, os acontecimentos recentes e da última década alimentam desencanto, medo e impotência. Ele acredita que a resposta da literatura a essa situação nem seja tão rápida assim. “Pelo contrário. Convivemos há mais de uma década não só com escândalos como o do mensalão, mas também com uma crescente radicalização das posições políticas e ideológicas Creio que os autores tiveram bastante tempo para perceber esses fenômenos e refletir sobre eles, cada qual a seu modo”, diz.
Em Abaixo do paraíso, quinto romance do autor, o protagonista é uma espécie de faz tudo para políticos do interior de Goiás. E faz tudo aqui envolve, principalmente, atividades ilícitas. Cristiano é um perdido, foragido, mas que sabe de muita coisa. O personagem encontra, segundo o autor, muitas correspondências no mundo real. “Vejo esse tipo de tarefeiro voejando ao redor dos políticos desde que me entendo por gente. Eles são um sintoma de como a política brasileira opera mais nas sombras e no submundo do que às claras, de como ela é viciada e violenta”, explica Leones.
Que horas ela vai? – O diário da agonia de Dilma, de Guilherme Fiúza, e Impasses da democracia no Brasil, de Leonardo Avritzer, e propõem pílulas de humor e reflexão sobre a situação política brasileira. No primeiro, Fiúza pontua momentos do governo de Dilma Rousseff com comentários ácidos e engraçados. O segundo questiona a maneira de fazer política hoje sem se filiar a ideias de direita ou esquerda.
Uma selfie com Lenin
De Fernando Molica. Record, 112 páginas. R4 29,90
Abaixo do paraíso
De André de Leones. Rocco, 256 páginas. R$ 29,50
Que horas ela vai? – O diário da agonia de Dilma
De Guilherme Fiúza.Record, 96 páginas. R$ 24,90
Impasses da democracia no Brasil
De Leonardo Avitzer. Civilização Brasileira, 154 páginas. R$ 29,90