Livros de chuteiras
Por Fernando Molica em 20 de março de 2008 | Comentários (0)
Som na caixa! Sabe aquela musiquinha que tocava nas transmissões do Canal 100 – a “Na cadência do samba”, de Luiz Bandeira, mais conhecida como “Que bonito é…”? Pois. Finja que ela está tocando, ouça o som da torcida e aplauda a entrada em campo dos 16 participantes da segunda edição da Copa de Literatura Brasileira:
Que bonito é
Ver um samba no terreiro
Assistir a um batuqueiro
Numa roda improvisar
Organizada pelo cartola Lucas Murtinho, a competição, bem interessante, é inspirada no Tounament of Books, criado pela revista eletrônica americana The Morning News em parceria com a livraria Powell’s. Em suma: 16 livros disputam a Copa em quatro rodadas. Na primeira, cada participante enfrenta um outro: o encarregado de apitar o jogo – um crítico, um blogueiro interessado em literatura – dá o resultado. Ele é obrigado a dizer por que escolheu A e não B. O mata-mata prossegue até a grande final, quando todos os árbitros podem votar no campeão.
Acompanhei os jogos do ano passado – e foram muito legais. Obrigados a escolher um vencedor, os jurados, de um modo geral, fizeram leituras detalhadas de cada livro. Qualidades e defeitos foram esmiuçados e apresentados em longas resenhas. Ao contrário do que ocorre nos demais prêmios literários, nesta Copa os resultados têm que ser justificados. Claro que não dá pra concordar com tudo, houve impedimentos mal marcados, pênaltis duvidosos, cartões vermelhos desnecessários, casos de doping não comprovados. Mas, pelo menos, dá pra saber por que A derrotou B.
A primeira edição da Copa – vencida por “Música perdida”, de Luiz Antonio Assis Brasil (LP&M) – injetou um pouco de ânimo neste certo marasmo da literatura brasileira contemporânea. Alguns autores reclamaram do juiz, vaias pipocaram das arquibancadas, ocorreram zebras: aqui e ali, o tempo ameaçou fechar. Ou seja, durante a Copa tivemos a oportunidade de vivenciar algo raro, uma discussão ao mesmo tempo técnica e emocional sobre a literatura produzida hoje no país. Não se falava em outra coisa nos melhores botequins virtuais. E isso não é pouco – renova ânimos, desperta paixões, gera esperanças.
Mais detalhes, lá no estádio oficial do evento, o Maraca (ou Engenhão) da literatura brasileira. O primeiro jogo é O amor não tem bons sentimentos (Raimundo Carrero, Iluminuras) x O sol se põe em São Paulo (Bernardo Carvalho, Companhia das Letras). O jurado é o Rodrigo Gurgel.