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Madonna estava lá mesmo?


Por Fernando Molica em 15 de dezembro de 2008 | Comentários (4)

Não gosto – nem desgosto, é fato – da Madonna. Tinha uma certa dificuldade para identificar seu rosto e continuo meio incapaz de saber qual é a sua voz – são tantos os efeitos sonoros que ela parece sempre cantar em coro (sabe aqueles discos da Xuxa? Pois.). Mas, mesmo assim, estive em seus shows nas duas vezes que ela veio ao Rio. Ganhei ingressos, fui conferir. Estava ontem lá, dançando na chuva.

Gostei? Sei lá. É um grande show, tudo funciona muito bem. Mas fica a impressão de se estar no meio de um video clip. É como se aquilo tudo fosse pré-gravado: as vozes, os sons dos instrumentos. Será que a Madonna estava mesmo cantando ali, ao vivo? Se até a Sandy (li isso na época do último Rock in Rio) dispõe de programas de computador para equalizar e equilibrar sua voz (e limar eventuais escorregadas), é óbvio que mecanismos ainda mais sofisticados estão à disposição de uma mega estrela como a Madonna.´

Tudo era meio suspeito: os músicos ficavam nas laterais do fundo do palco – só um apareceu no centro , supostamente tocando um piano sobre o qual Madonna cantava e dançava. Nem um deles foi apresentado, teve seu nome citado. Repito: será que eles estavam mesmo tocando ali? No momento “étnico” – meio Sidney Magal – do show, supostos ciganos ocupavam o palco, alguns deles portavam instrumentos cujos sons eram amplificados – será que o som vinha daqueles instrumentos acústicos sem microfones aparentes?

Talvez esteja sendo exigente e chato demais. Os caras se propõem a oferecer um espetáculo perfeito, sem erros. Em algum momento, músicos tocaram aquelas músicas – ali no palco ou em algum estúdio. Os mesmos músicos que ali estavam ontem? Sei lá. E, afinal, qual o problema se um John qualquer fingiu ontem tocar os acordes gravados por um tal de Mike? E a Madonna? Bem, até prova em contrário, ela canta suas músicas. Pode ter feito isso ontem, pode ter duplado a si própria.

No fundo, a questão tem a ver com o fascínio exercido pelos espetáculos ao vivo – o que os diferencia dos pré-gravados? Talvez seja a possiibilidade do erro. Ao vivo, o artista pode errar, pode também alcançar um momento sublime. Pode ter um piripaque qualquer, pode isso e mais aquilo. De uma certa forma, coloca-se aqui o mesmo problema aventado há quase um século em torno das artes plásticas, quando se popularizou a prática da reprodução de obras, especialmente de pinturas. Afinal, qual seria a diferença entre original e cópia, ver a “Monalisa” original seria diferente de observar uma de suas cópias perfeitas, uma reprodução fotográfica?

Ao privilegiar a busca da perfeição, espetáculos como o de Madonna talvez abram mão da tal da “aura” que, segundo aqueles alemães do início do século 20, envolvia cada peça original. É uma boa discussão. De qualquer forma, não há técnica capaz de domar todas as impresibilidades de um show ao vivo: não sei se Madonna cantou ontem, mas tenho certeza: choveu, ela se apresentou protegida por um ridículo guarda-chuva e, principalmente, escorregou no palco. Sim, o escorregão provou que ela estava ali mesmo, não era uma imagem em 3D, uma holografia (pior é que não vi a cena, tinha dado uma escapada para comprar cerveja). Talvez alguns outros escorregões fizessem bem ao show.

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Comentários
16 de dezembro de 2008

Assino embaixo, Molica. Eu, que só fui porque ganhei ingresso, também achei isso: foi bom, mas não foi... É muita perfeição, muita pulação, muita ginástica, um imenso clipe. Abraço.

Eduardo Carvalho
15 de dezembro de 2008

Não me espantaria, Eduardo. abs.

Fernando Molica
15 de dezembro de 2008

Será que o escorregão também não foi ensaiado Molica? Vai ver eles pensaram em tudo. Tudo, mesmo.

Eduardo Freire
15 de dezembro de 2008

Todos esses mega-espetáculos são assim: perfeitos, "impressionantes" (sob o ponto de vista visual) e chaaaaaaatos. Por isso desisti de ir. Desde o show do U2 que não vou mais. Melhor botar o disco e ouvir em casa.

Marcelo Moutinho