Menino que parte
Por Fernando Molica em 29 de março de 2010 | Comentários (2)
Acabo de ler na internet que o jornalista Armando Nogueira morreu hoje cedo. Acho que nunca o conheci pessoalmente, talvez já tenhamos sido apresentados, não sei. Mas sei que, durante muitos anos, fui um grande admirador de seus textos sobre futebol. Principalmente dos textos mais antigos, reunidos em O homem e a bola – tenho uma edição de 1986, lançada pela Editora Mitavaí.
Alvinegro, Armando cometeu a ousadia de tratar o futebol de forma poética, foi um dos primeiros a perceber que aquele universo reunia muito mais que chutes, faltas e palavrões. A leitura de Armando sobre o futebol foi pioneira e, de certa forma, única. Nos seus melhores textos, ele conseguia a difícil tarefa de se equilibrar no ponto exato do que pode ser chamado de sublime. Um passo em falso e ele cairia no campo raso do melodrama. O futebol é cheio de situações que favorecem o dramalhão, basta falar de Garrincha, de Almir Pernambuquinho e, mesmo, do jogador que faz dois gols em final de Copa do Mundo depois de ter o joelho arrebentado.
Gosto particularmente de uma das crônicas de Armando, “Menino-que-chega”. Sempre me emociono ao ler o texto que me faz lembrar o dia em que, em 1967, fui levado por meu pai ao pequeno estádio de General Severiano para ver meu primeiro jogo do Botafogo: um timaço com Manga, Moreira, Leônidas, Zé Carlos, Valtencir, Carlos Roberto, Gérson, Rogério, Jairzinho, Roberto e Paulo César. Ih, acabei escalando o time inteiro. Naquela tarde, diante de um Botafogo e Madureira, eu fui o menino-que-chega. Menino que chegou para jamais sair, que, sempre menino, anos depois levaria seus filhos ao Maracanã, eles também meninos que então chegavam. Meninos que permanecem, que ficam, que não desgrudam da gente, que não nos deixam sucumbir à vida mesquinha que se desenha fora de um estádio, de uma arquibancada.
Como disse o Armando: “cada menino que chega é grama nova que floresce no campo”.
O texto completo de “Menino-que-chega” pode ser lido aqui.
Obrigado, Salvador. Claro, Almir, morto em Copacabana. Já fiz a correção.
Fernando MolicaTem um texto sensacional do Armando que conta de uma pelada de crianças no aterro do Flamengo, cujo personagem era a enciclopédia do futebol, Nilton Santos. Você quis dizer Almir Pernambuquinho.
Salvador Lacerda Falcão