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Meninos que brincaram e dançaram na lua


Por Fernando Molica em 31 de agosto de 2012 | Comentários (0)

Coluna Estação Carioca, jornal O DIA, 29/8:

Em ‘Tendo a Lua’ (Herbert Vianna e Tetê Tillet), os Paralamas do Sucesso lamentam que o privilégio de visitar a Lua tenha sido reservado a militares e não a bailarinos. Sei não, vejo como dança e brincadeira aqueles pulos que os astronautas Neil Armstrong e Edwin Aldrin deram ao desembarcarem lá, em 1969. Faz muito tempo, eu tinha 8 anos, mas lembro daquela tarde de domingo em que eu olhava para o céu de um jeito meio esquisito. Era estranho admitir que lá em cima, sobre a minha cabeça, dois homens se preparavam para alunissar — o verbo aterrissar era inexato, remetia à Terra.

Naquele 20 de julho, eu queria que a noite chegasse logo. Talvez por associar a Lua à escuridão, seria meio inconcebível imaginar que a conquista ocorresse durante o dia. Era necessário anoitecer para que eu pudesse, de minha casa, em Piedade, acompanhar aquele feito tão inusitado. E eu vi. Lá do quarto dos meus pais, acompanhei aquelas duas manchas brancas descendo na Lua, pregando no solo a bandeira americana, e, mais que tudo, testemunhei aqueles saltos amortecidos pela pouca gravidade. Pulos que quebravam o rigor daquele momento; parecia fora do roteiro ver dois adultos, homens corajosos, desbravadores, brincarem feito crianças na Lua. Os dois astronautas talvez se sentissem vaidosos de, sob os olhos de todo mundo — todo mundo mesmo! –, poder desfrutar de uma brincadeira exclusiva. Só eles podiam saltar ali, naquela velocidade, em câmera lenta, como então se dizia.
Ao pular, os heróis viravam meninos exibidos, recuperavam o instante em que, décadas antes, alardearam que sabiam andar de bicicleta sem rodinhas. Os passos que tanto invejei deram um novo sentido à epopeia, as informações relacionadas a motores, foguetes e computadores perdiam importância diante da brincadeira. Os saltos ressaltavam que Armstrong e Aldrin também eram Neil e Edwin, dois garotos que gostavam de brincar, pular e dançar. Naquelas poucas horas, aqueles militares também foram bailarinos.

Tudo isso é para lembrar que, no sábado, Armstrong morreu. O primeiro homem a pisar na Lua cultivou uma vida discreta, era avesso à glorificação de seu feito; militar, talvez achasse que apenas cumprira uma missão. Mas duvido que, de vez em quando, não quebrasse seu silêncio para contar aos netos como foi bom pular e dançar na Lua.

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