Musical sobre Leci Brandão não se resume a enfileirar canções
Por Fernando Molica em 10 de abril de 2023 | Comentários (0)
‘Na palma da mão’, espetáculo sobre a cantora e compositora Leci Brandão em cartaz no Teatro João Caetano, no Rio, tem, entre outros méritos, o de ter escapado do que chamaria de biografismo – tendência, presente em vários outros musicais sobre cantores, a de amarrar de maneira forçada o texto e a encenação à vida do homenageado.
Escrito por Leonardo Bruno e dirigido por Luiz Antonio Pilar, o musical criou um personagem – Leci – a partir de elementos marcantes da história da artista, mulher negra de origem pobre, ligada à religiosidade de matriz africana, homossexual, autora de letras que tratam de questões sociais.
Como tratavam de um personagem – e não da, digamos, Leci real – Bruno, Pilar e Lorena Lima e Luiza Loroza (que, com o diretor, fizeram uma adaptação dramatúgica do texto) criaram uma peça de teatro e não um relato cronológico e ilustrado por canções da compositora.
As atrizes Tay O’Hanna e Verônica Bonfim e o ator Sérgio Kauffmann entraram no jogo proposto, chegam a, em cena, lembrar que estão fazendo teatro e, portanto, têm liberdade para algumas divertidas licenças poéticas.
‘Na palma da mão’ é um espetáculo inspirado na artista, e não subserviente a ela. Assim, a peça não se transforma num pretexto para um desfile de canções, Na palma da mão’ é o que deveria ser, um musical cheio de ótimos elementos e sacadas cenográficas. Tudo muito simples e eficiente, como as folhas espalhadas no palco que escondem e revelam segredos.