Na Europa, a NBA do futebol
Por Fernando Molica em 29 de junho de 2015 | Comentários (0)
Estação Carioca, O DIA, 18/5.
Os jogos da Champions League me fazem lembrar a seleção brasileira de basquete que atuava no início dos anos 1970, quando eu era garoto. Um time em que brilhavam estrelas como Carioquinha, Hélio Rubens, Ubiratan e Marquinhos, um pivô de pouco mais de dois metros de altura, quase um Everest para a época. A equipe era muito boa, participava com relativo sucesso dos mundiais (vice-campeã em 1970, terceira colocada em 1978 — aqui, renovada, contava com os espetaculares Oscar e Marcel).
Fui algumas vezes assistir a torneios que volta e meia conquistávamos. Eram quadrangulares que costumavam ter a participação de seleções como a da Iugoslávia e a dos Estados Unidos. E é aí que vem a história da Champions League. O basquete era considerado um esporte amador, o que impedia a participação de atletas da NBA nas seleções norte-americanas. Os caras se faziam representar por equipes universitárias, formadas por atletas que ainda não haviam se profissionalizado. Caprichavam, como podiam, no time enviado para as Olimpíadas, mas não davam muita bola para o Mundial — então dominado por iugoslavos e soviéticos — e, muito menos, para torneios no Maracanãzinho.
Na época, o mundo do basquete era dividido de maneira bem simples: a NBA e o resto. Havia até algumas diferenças nas regras, o que fortalecia a percepção de que o esporte que eles disputavam era outro. Esta impressão ficou evidente a partir de 1992, quando profissionais norte-americanos puderam, enfim, disputar as Olimpíadas e formaram o Dream Team, time dos sonhos que contava com craques como Michael Jordan, Magic Johnson e Larry Bird. Os adversários entravam em quadra com vontade de pedir autógrafos.
A distância que separa campeonatos europeus dos disputados por aqui é ainda maior da que havia entre o basquete americano e o do resto do mundo. Mas dói perceber que a diferença no futebol só aumenta — os 7 a 1 traduzem o domínio alemão naquele jogo e expressam uma proporção, a diferença que nos separa de um futebol mais bonito e competitivo. Nossa tragédia é consequência do profissionalismo deles e do nosso amadorismo, um amadorismo feito para empobrecer clubes e enriquecer muitos dos que gravitam nesse universo. Só a roubalheira institucionalizada em clubes e federações explica a não existência de um futebol compatível com o talento dos nossos jogadores e com a economia brasileira, uma das dez maiores do mundo. Ah, para fazer justiça: nossa antiga seleção de basquete era muito melhor que o time do Felipão.