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Não ao bye bye life


Por Fernando Molica em 13 de abril de 2021 | Comentários (0)

Lá se vão muitos anos quando vi ‘All that jazz’, filme, meio autobiográfico, em que o diretor e coreógrafo Bob Fosse trata de angústias e delírios diante da perspectiva da morte.
Não lembro de detalhes, mas sei que gostei muito do musical, da tensão meio trágica, meio divertida, daquela dança com a morte embalada por uma espécie de avaliação da vida errática do protagonista – um das canções era ‘Bye bye life’, melodia alegre recheada de versos como ‘I think I’m gonna die´.

Escrevo este texto sob o impacto da morte do querido amigo Aloy Jupiara, de 56 anos, outra vítima da Covid-19. A interminável contagem de mortes – estamos a caminho das 400 mil – parece ter gerado um efeito anestésico, uma quase sensação de inevitabilidade, um bye, bye life que se reflete em atitudes irresponsáveis, por parte de governos e de muitos setores da população.

Como se, diante de um destino que parece se impor, tenhamos desligado a tecla que nos alerta para a tragédia. E, aí, a saída acabe sendo fazer festa, negar as formas de transmissão, manter comércio e bares abertos – é como se chamássemos a morte para a nossa mesa, brindássemos com ela, a levássemos às compras.

Como se não houvesse outros caminhos, outras possibilidades. Como se o Estado brasileiro não fosse capaz de, a exemplo de tantos e tantos países, encontrar maneiras de garantir sustento para trabalhadores e pequenos empresários que se sentem obrigados a sair de casa para arriscar suas vidas.

Precisamos acordar, sair deste pacto com a morte. A história é cheia de exemplos de populações que aceitaram a tragédia, que compactuaram com a própria morte. Temos que parar essa dança macabra, não podemos normalizar a ideia de morrermos todos no fim do filme.

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