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Nosso grande parquinho mambembe


Por Fernando Molica em 03 de fevereiro de 2012 | Comentários (0)

Coluna Estação Carioca, jornal O DIA, 01/02.

O Rio começa a ficar parecido com o Glória Center, aquele parquinho mambembe de diversões onde duas pessoas morreram no ano passado. É impressionante a sucessão de tragédias que, em diferentes graus, combinam irresponsabilidade particular com inoperância ou cumplicidade do poder público. Parece que, de uma hora para outra, vieram à …tona todas as consequências de anos e anos de descaso.

Os exemplos são muitos: o restaurante da Praça Tiradentes usava botijões de gás que não poderiam ser instalados lá. O dono deve ter achado que a proibição era uma frescura, uma dessas besteiras que políticos inventam para azucrinar o cidadão. Pelo visto, bombeiros e a prefeitura concordavam, tanto que não fizeram nada para prevenir o acidente.

Ao longo de décadas, o Edifício Liberdade ganhou janelas e anexos, perdeu paredes, pedaços de laje e, talvez, uma ou outra coluna. Ao que tudo indica, a estrutura sucumbiu aos ataques. A insensatez representada pelas obras realizadas sem a devida assistência pode ser traduzida em frases que estamos acostumados a ouvir: “Na minha casa, eu faço o que eu quero!”, “O carro é meu, paro onde bem entender”, “Os incomodados que se mudem”, “Lei Seca é pra arrumar grana” — todas são expressões de uma irresponsabilidade egoísta e assustadora.

No caso da explosão de um bueiro no Porto, é provável que houvesse óleo combustível dentro de galeria destinada ao escoamento da chuva. Óleo que deve ter ido parar lá da mesma forma com que casas e prédios jogam esgoto na mesma rede. É mais simples, é mais barato — algo tão banal quanto arremessar uma lata de cerveja da janela de um ônibus ou de um carro. Uma superprodução teatral também não escapou: os cabos que deveriam sustentar o voo dos atores Thiago Fragoso e Danielle Winits foram instalados sem a assistência de um engenheiro. Nem os deuses gregos de ‘Xanadu’ ficaram livres de nossa bagunça.

Nós, cariocas, sempre nos vangloriamos da nossa capacidade de adaptação, do nosso jogo de cintura. Já passou da hora de admitirmos que os limites foram ultrapassados. É razoável quebrar um galho numa situação pontual, mas não dá para fazer com que o desvio vire norma. Não se constrói uma sociedade na base do improviso e do “deixa comigo”. De jeitinho em jeitinho, corremos o risco de ver a cidade transformada em versão ampliada do tal Glória Center.

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