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Notícias alemãs 1


Por Fernando Molica em 12 de setembro de 2011 | Comentários (0)

Na entrada, muitos livros de autores brasileiros, portugueses, angolanos, moçambicanos e italianos – todos protegidos por aquele verso de Pessoa, pintado sobre as estantes, que fala do poeta e da dor que ele deveras sente. Ao fundo, uma exposição de produtos capazes de fazer salivar qualquer um que esteja saudoso da terra onde canta o sabiá; guaraná Antarctica, feijão preto, rapadura. O nome da loja é A Livraria, fica em Berlim, na Torstraße 159.

Aberta em 2006, a livraria pertence ao pernambucano Edney Meirelles e à sua mulher, a italiana Catia Russo. É um ótimo lugar para escapar do frio deste fim de verão berlinense (9ºC no verão é de fazer qualquer um duvidar da história do aquecimento global). Foi lá que, na quinta passada, fui recebido para uma leitura do Notícias do Mirandão, lançado na Alemanha, pela editora Nautilus, em 2006. O evento foi organizado em conjunto com a Sociedade Brasil-Alemanha (DBG) e teve a mediação do meu novo amigo de infância, o Michael Kegler, tradutor do livro.

Não deixa de ser engraçado debater o livro numa área de Berlim que, há até pouco mais de 20 anos, pertencia à então República Democrática Alemã, a Alemanha Oriental. Meio que falava de corda em casa de enforcado – afinal, o romance trata de uma articulação entre um grupo de esquerda e traficantes cariocas em torno de uma revolução de caráter socialista.

É claro que, na hora de conversar sobre o livro, o tema acaba se impondo ao romance e o escritor é obrigado a ceder lugar ao repórter que também deveras é. Tudo bem, falamos de favelas, polícia, UPPs. E registro como é curioso falar, no exterior, sobre uma política de pacificação de favelas. Afinal, a busca de paz pressupõe a existência de uma guerra. É doloroso admitir a nossa guerra particular, ainda mais num país de tantas guerras, como a Alemanha.

Coube à professora de Teoria Literária e escritora Ligia Chiappini Moraes Leite, da Universidade Livre de Berlim, recolocar a bola no campo literário, o que permitiu uma discussão mais voltada para uma realidade construída pela ficção e sobre as limitações da lógica jornalística. Tratamos, enfim, para falar de um samba que cito no Mirandão, da dor que não sai no jornal.

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