O autógrafo, o presente
Por Fernando Molica em 05 de outubro de 2016 | Comentários (0)
O querido Sergio Leo, que gosta tanto de futebol quanto eu odeio curry e batata baroa, ironizou meu gesto de pedir um autógrafo ao Paulo Cézar Lima, ex-jogador do Botafogo, campeão do mundo em 1970. Viu minhas fotos ao lado do jogador e afirmou que, quando tocadas pelo lado do bem, religiões são legais.
De certa forma, concordo. Sim, há algo meio religioso no futebol, cheio de objetos sagrados, ídolos e deuses. Volta e meia o futebol, assim como tantas religiões, vira pretexto para o desencadear de conflitos mais sérios, que têm muito mais a ver com disputas, injustiças e misérias terrenas do que com aquelas outras, relacionadas aos mistérios do além.
Dizem que a palavra religião tem origem no termo ‘religare’ do latim, algo que refaz uma ligação. A religião do futebol nos religa com a infância, com o menino que fomos e que nunca deixamos de ser. Meninos que tiveram uma bola como primeiro presente.
Tem a ver com o garoto que descobre integrar um universo ao mesmo tempo lúdico e trágico, espaço de alegrias e tristezas, fé que lhe ensina a conviver com vitórias e derrotas, com tropeços e voltas por cima.
Um menino que passa a crer em uma camisa, em uma bandeira, em determinadas cores (no meu caso, as duas essenciais: uma que marca a ausência de cores; a outra, a reunião de todas). Menino – como o menino-que-chega do alvinegro Armando Nogueira – para sempre encantado/batizado ao pisar pela primeira vez no Maracanã.
Falei em religar. Meu pai, que me revelou que eu era Botafogo, foi quem primeiro me falou do então jovem Paulo Cézar; a camisa que levei para ser autografada me foi presentada, há alguns anos, por meus filhos.Tudo ali estava ligado; eu também me religava com o menino que teimo em não deixar de ser.
Um menino que terminou a noite de 27 de setembro feliz da vida com seu autógrafo, presente recebido no dia de Cosme e Damião.