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O Bolsa Hímen, a Taxa Chifre e outras sugestões para a defesa da família


Por Fernando Molica em 29 de outubro de 2016 | Comentários (0)

Já acompanhei e cobri muitas e muitas campanhas eleitorais, mas nunca consegui entender direito essa história de um candidato se apresentar como representante dos “valores da família”. O que seria isso, afinal? Suponho que, no aspecto propositivo, o sujeito possa, para estimular casamentos, criar algo como o programa ‘Meu casório, minha vida’, que daria bônus para casais – héteros, claro – que topassem formalizar suas uniões.

Poderia também ser criado o Bolsa Hímen, que bancaria o vestido de noiva das jovens que preservassem a virgindade até o casamento, um prêmio à invencibilidade. Cintos de castidade high tech e com design arrojado – conhecidos popularmente como Espanta Pinto e Perereca na Gaiiola – seriam distribuídos em postos de saúde.

Em nome da família, prefeitos teriam à sua disposição medidas punitivas, como o aumento progressivo do IPTU de imóveis registrados em nome de homens e mulheres flagrados em adultério, algo que poderia ser chamado de Taxa Chifre ou de Contribuição Extraordinária Sobre a Pulada de Cerca.

Há também a possibilidade de fazer com que a Guarda Municipal passe a reprimir travestis e prostitutas que se oferecem nas ruas. A Secretaria de Fazenda poderia passar a cobrar, de termas e casas de prostituição, o Imforca, Imposto Sobre a Fornicação Aleatória. Já a Secretaria de Educação teria como implantar a disciplina Educação Assexuada.

Gays e solteirões passariam a pagar o dobro em cinemas, teatros e transportes públicos. Filhos gerados fora do casamento teriam complicações na vida civil por conta da aprovação do programa Basta de Bastardos.

Como até hoje ninguém propôs nenhuma das medidas acima – espero não ter dado ideia -, é razoável admitir que, em prol das famílias, de qualquer família, governantes teriam que garantir saúde, educação, transportes, saneamento, itens que deveriam fazer parte da agenda de qualquer político. Soluções para esses problemas facilitariam muito a vida de cidadãos de qualquer tipo de família.

O tema de defesa da família costuma ser usado apenas para driblar o descompromisso com o que deve ser feito e, com frequência, traduz apenas uma verdade: a volúpia com que muitos sujeitos entram na vida pública apenas para defender os interesses de suas próprias famílias.

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