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O casamento do Cortês


Por Fernando Molica em 10 de agosto de 2011 | Comentários (0)

Coluna Estação Carioca, jornal O DIA, 10/8:

O mundo vai ficando tão esquisito que passamos a nos surpreender com situações absolutamente banais. Casos que deveriam ser considerados rotineiros tornam-se exceções e acabam virando notícia. Por exemplo: na semana passada, os jovens Bruno e Juliana comemoram seu casamento na filial de Campo Grande da rede de lanchonetes Habib’s. Todo mundo estranhou e até ironizou: afinal, o noivo, que se define como “povão” (“ando de trem, de ônibus”), é titular de um clube da primeira divisão do milionário futebol brasileiro.

Pouco importa que Bruno Cortês, de 24 anos, tenha sido contratado há pouco tempo pelo Botafogo — antes de vestir a gloriosa camisa de Garrincha, Didi e Nilton Santos, ralou no Nova Iguaçu, Quissamã, Castelo (do Espírito Santo) e no Al-Shahaniya, da segunda divisão do Catar. Pelo currículo, ele ainda não deve ter acumulado um bom pé de meião. Mas, na cabeça de quem acompanha o mundo do futebol, o lateral — que leva o maior jeito de craque — deveria ter alugado uma caríssima casa de festas na Barra para assumir seu compromisso com a amada Juliana. Todo mundo acharia normal se ele aparecesse na festa de terno branco e cheio de anéis de ouro nos dedos. Como foi de camisa esporte e jeans, ficou esquisito: Cortês não cumpriu o papel que se espera de um jogador de futebol — não foi vaidoso, deslumbrado ou arrogante. O casal preferiu fazer uma festa compatível com sua expectativa e seu orçamento. “Foi tudo bacana, no esquema 0800”, disse o jogador, ao admitir que não pagou pela festa (o dono da lanchonete sabe que saiu no lucro com a publicidade conquistada).

Claro que Cortês tem todo o direito de usar seu dinheiro para bancar grandes festas. É provável que não precise recorrer ao tal esquema 0800 para comemorar os aniversários dos futuros filhos. Se continuar a ter atuações como a de domingo, em breve sua conta bancária vai crescer muito. Mas, pelo jeito, o jogador que diz ter cuidado para se manter humilde saberá diferenciar riqueza de deslumbramento. A naturalidade demonstrada ao se referir à festa no Habib’s revela que ele entra vacinado num mundo de relações e interesses tão delicados, perigoso principalmente para jovens que passaram por tantas dificuldades na vida e, muitas vezes, querem recuperar tudo de uma vez só. O lateral tirou de letra até a repercussão de sua festa modesta. Prometeu outra, nas férias. “A gente mata um boi e comemora”, brincou.

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