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O estupro cometido por 30, ou por 33


Por Fernando Molica em 26 de maio de 2016 | Comentários (9)

Não vi, e nem quero ver, as cenas do estupro de uma jovem por 30 ou 33 sujeitos. Não preciso ver para me sentir também estuprado, para condenar os facínoras – que sejam presos, condenados. E ressalto, foram 30 – ou 33. Não foi um estuprador, não foram dois, ou três. Foram 30, ou 33. Três dezenas de homens que ficaram excitados, que sentiram tesão, que não pensaram na vítima, que não se sentiram culpados.

Foram – repito – três dezenas de homens que ficaram excitados diante da perspectiva de estuprar uma adolescente. Não houve ali ninguém que gritasse ‘peraí, coitada da moça, melhor parar’. Todos achavam que faziam o certo.

Insisto que eles não devem ter perdão, que precisam ser condenados. E ressalto também que – longe de amenizar a culpa dos canalhas – é preciso pensar numa sociedade que produz três dezenas de homens que, reunidos, acham normal, e excitante, estuprar uma mulher.

Há quase dois anos, eu estava no Itaquerão, na abertura da Copa. E achei ouvir que o público mandava a Fifa – uma entidade, uma associação, uma pessoa jurídica – tomar no cu. Ei, Fifa, vai tomar no cu. Mas, não, eu ouvira errado, mandava-se a Dilma tomar no cu. Isto, numa expectativa de punição, de estupro, de violação. Eram mais de 60 mil pessoas que estimulavam o estupro de uma mulher, de uma sexagenária. Por acaso, ela era a presidente da República, mas isso não tem a menor importância. A violência era contra uma pessoa, contra uma mulher.

Nossa sociedade, moldada na escravidão, é violenta demais. Conseguiu associar a expressão “direitos humanos” a algo negativo, que precisa ser condenado – direitos humanos para humanos direitos, como tantos costumam vomitar. Uma sociedade que permite a violação das leis para que um inimigo seja punido, que delega à polícia o direito de matar alguém que seja visto como bandido. Uma sociedade que não respeita os diferentes, que só protege aqueles que considera iguais. Uma sociedade que, volta e meia, atribui à vítima a responsabilidade por um estupro.

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Comentários
29 de maio de 2016

O que dizer se tudo foi dito aqui?! Só me resta compartilhar!...

Maryse Carneiro
29 de maio de 2016

Fernando, brilhante o seu texto sobre esse hediondo assunto que pauta e impacta nossa sociedade neste momento. Mas, infelizmente, náo é um acontecimento recente, pois, há séculos viemos tolerando, silenciosa e criminosamente, todas as formas de violência contra a mulher. Muito pertinente vc inserir aqui o vexame que brasileiros, de todas as idades, e, pelo preço pago para estar naquele estádio de futebol, penso que, salvo algumas exceçóes, a grande maioria era de pessoas pertencentes às classes mais "empoderadas", ou seja, as que se sentem mais poderosas. É estarrecedor ver que esse poder, que muitos acreditam possuir apenas por terem a posse de bens materiais, náo é acompanhado pelo respeito ao ser humano, como exemplifica a vergonhosa e covarde agressáo feita contra Dilma Rousseff. A arrogância, o machismo e a falta de pudor permitem que extrapolem todos os limites, e assim chegamos (será que vamos "avançar" ainda mais?) a esse escabroso estupro de uma adolescente por mais de três dezenas de selvagens cegos por uma inominável tara que, secularmente, de forma iníqua e perversa, destrói moral, espiritual, psicológica e fisicamente a vida de milhares de mulheres. Hoje é que descobri seu site. Parabéns, a partir de agora vou acessá-lo sempre. Obrigada.

Suely Molina
27 de maio de 2016

Sensacional o seu texto. A pergunta que devemos fazer é como mudar essa sociedade machista?? 33 homens curraram uma adolescente com requintes de crueldade. Ela acordou com os animais em cima dela, e o mais chocante além do que eles fizeram é a gravação da violência, exposição dela para o mundo é o comentários cruéis das pessoas dizendo que a culpa era da vítima. Esse episódio exige pena máxima para os 33.

ELIZA
27 de maio de 2016

Seu texto reflete exatamente o que penso. Cada dia mais chocada com nossos "semelhantes ". Só a Educação salva.

Tania lima
27 de maio de 2016

Triste! mas, percebo que o retorno à barbárie esta sendo estimulada pela chamada grande imprensa e pelos ímpetos golpistas de muitos partidos políticos, com a conivência, clara do poder judiciário!

Sergio Fernandes
27 de maio de 2016

Assino embaixo o teu texto. Que país é esse que só protege aqueles que considera iguais e que não respeita os diferentes? Muito triste com tudo que está acontecendo. Um abraço, Flavia cavalcanti

Flavia cavalcanti
27 de maio de 2016

Olá Fernando, tudo bem? É muito bom encontrar pessoas conscientes como você. Chega a me emocionar. A falta de respeito, com qualquer ser humano me deixa perplexa. Quanto a xingarem a Dilma na copa, foi um grande absurdo, a maioria era de mulheres. Será que elas não ajudariam a violentar essa moça, vítima desse estupro? Tudo que têm ocorrido nas últimas semanas nos deixa perplexos. Fico pensando o que leva as pessoas a fazerem o que fazem. A maioria está doente, literalmente. Para muitos, os políticos, é só dinheiro e poder, os demais precisam de uma avaliação médica e quererem se tratar. Um desabafo. Um grande e carinhoso abraço.

Dilma Coelho
27 de maio de 2016

Um horror. Inacreditável.

ruth b martins
27 de maio de 2016

Belo texto, confesso que me fez encher os olhos d´agua. Primeira vez que vim aqui, mas já quero dar uma sugestão (que petulância, hein?): aumentar o tamanho da fonte dos textos, principalmente na visualização principal do site. Acredito que o tamanho da fonte influencia na "experiencia do usuário". Abraço!

Clovis