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“O filho eterno”


Por Fernando Molica em 24 de setembro de 2008 | Comentários (0)

Prêmio é um negócio sempre meio complicado. No caso de literatura, sempre me pergunto se os jurados leram mesmo todos aqueles livros. Bem, admitamos que sim. De qualquer forma, o Jabuti de melhor romance para “O filho eterno”, do Cristovão Tezza, é pra lá de merecido. Em janeiro passado, ainda no antigo blog, fiz alguns comentários sobre o livro. Esses aqui, ó:

Não é muito original dizer isso, mas não custa repetir que “O filho eterno”, de Cristovão Tezza (Record), é um ótimo livro. E o melhor: conheço algumas pessoas que já o leram. Isso permite algo difícil nesses tempos: conversar, ainda que por e-mail, sobre um livro. Numa dessas conversas, um amigo me chamou a atenção para um dado interessante de “O filho eterno”: no fundo, o personagem principal também busca o pai. No processo de rejeitação/aceitação do filho down, ele também se descobre filho, um filho igualmente eterno.
Essa observação permitiu – e a conversa foi seguindo – perceber o quanto o autor é hábil ao criar discretos paralelismos entre a história de seu filho e fatos de sua própria biografia. O filho tem uma deficiência que lhe causa óbvios problemas de adaptação ao mundo. Mas, ao refletir sobre o filho, o pai reconhece suas menos explícitas dificuldades. A humanização do personagem principal se dá de forma gradual. Algo só pode existir na medida em que ele também se descobre incapaz, inadaptado. A deficiência de um expõe a do outro. Uma leitura que nos ressalta o como, de alguma forma, somos todos meio (ou muito) incapazes e inadaptados. E é essa perspectiva que faz de “O filho eterno” um livro profundamente humano.

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