O FIM
Por Fernando Molica em 09 de maio de 2014 | Comentários (0)
Amanhã, sábado, às 14h, eu e os camaradas Luis Pimentel e Álvaro Costa e Silva participaremos de uma conversa no FIM de Semana no Porto sobre jornalismo e literatura, batizada pelo Luiz Antonio Simas, cambono do evento, de ‘A dor da gente não sai no jornal’. A frase, muita gente deve lembrar, é um verso de um samba espetacular ‘Notícia de jornal’, do Luis Reis e do Haroldo Barbosa (aqui, https://www.youtube.com/watch?v=ykVq1624ws8, numa gravação de Chico e Miltinho).
Ouvi o dito cujo pela primeira vez no LP que registrou o show de Chico e Bethânia, no Canecão. Tinha 14/15 anos e já havia decidido ser jornalista. Desde então, meio que adotei o samba, narrado em forma de notícia. Sempre achei que, um dia, o citaria numa eventual peça que viesse a escrever. Acabei o incluindo no meu primeiro romance, ‘Notícias do Mirandão’, lançado em 2002 – um dos personagens principais é jornalista. Os versos iniciais da canção abrem um dos capítulos, servem de mote para que seja contado o fim do segundo casamento do Fontoura, o tal repórter.
“A história dele com Sônia acabara, a dor da gente não sai mesmo no jornal. Pelo menos, ela não tentara o suicídio ou mesmo um homicídio no humilde barracão, um dois-quartos em Botafogo. Apenas dera-lhe um glorioso e retumbante pé na bunda. Era esperado. Quatro anos é muito tempo – um casamento pra lá de duradouro no ranking das redações cariocas. Ela também era jornalista – repórter como ele, fazia Geral e trabalhava logo ali, a menos de um quilômetro. (…) Sônia teve certeza de que a relação acabara quando Fontoura chegou bêbado e atrasado a um jantar na casa dois pais dela. Para espanto dos sogros, gritava para a mulher, referindo-se à queda do secretário de Saúde causada por uma matéria publicada no jornal em que ele trabalhava: “Fodemos com vocês! Fodemos com vocês!” O pior é que Fontoura sequer participara da matéria.
O casamento terminou naquela noite; na semana seguinte, Sônia deixou o jornal e aceitou o convite para trabalhar como assessora de um banco. “Enfim, virei bancária”, brincou, lembrando a frase com que muitos jornalistas justificavam a falta de rotina no exercício da profissão: “Quem quer cumprir horário deve trabalhar em banco.”
A programação completa do FIM está em http://casaporto.org/fim/ .