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PONTOS DE PARTIDA, O BLOG DO MOLICA

O gosto da vitória


Por Fernando Molica em 08 de agosto de 2017 | Comentários (0)

(Sinais, sinais. Na antevéspera de mais um jogo decisivo, esbarrei por acaso, no computador, com texto que fiz para o livro ’95 – A tua estrela brilha’, do Claudio Portella e do Rafael Casé. Um relato particular da epopeia do título de 1995).

Em homenagem ao Biriba, aposto um pacote grande de Royal Canin: garanto que nenhum alvinegro acreditava, no início de 1995, na possibilidade de o Botafogo ser campeão brasileiro naquele ano. Apesar de aguerrido e de contar com o artilheiro Túlio, o time, bem acertado pelo técnico Paulo Autuori, não tinha muito ibope nem com o presidente do clube, Carlos Augusto Montenegro – ele havia declarado que a chance do título nacional só existiria em 1996.

Desconfio que boa parte das esquisitices que se manifestam no Botafogo e em seus torcedores tem a ver com nossas três datas de nascimento – as relativas à fundação dos clubes de remo, de futebol e de futebol e regatas. Nenhum astrólogo consegue trabalhar com tantas possibilidades de combinação, tudo conosco é meio esquisito. Tanto que comecei a desconfiar na possibilidade de chegarmos mais longe no campeonato ao ver um jogo em que seríamos derrotados.

Perdemos ( 2 a 1 para o Palmeiras, lá em Presidente Prudente) mas jogamos bem, muito bem. Sabe quando você, evitando alardear otimismo, cutuca o amigo ao lado e diz algo como “sei não, mas…”. Pois. Ali, naquele jogo, sexta rodada do primeiro turno, deu para murmurar o sei não. Na partida seguinte, ganhamos do Grêmio, em Porto Alegre (“Sei não…”); mais à frente, despachamos o time da Gávea, que tinha Romário, Sávio e Edmundo – mas, PQP, o Túlio é que era o artilheiro do Brasil.

E assim fomos avançando, jeito de mineiro come-quieto, que finge não querer nada e vira dono de banco, poeta maior, presidente da República no lugar do titular expulso de campo. Chegando, chegando. Na última rodada da fase classificatória, metemos 3 a 1 no Santos, uma prévia do que viria para a frente. Na semifinal, despachamos o Cruzeiro – e que venha o Peixe de novo.

Falei que foi um ano esquisito. Tão estranho que, no primeiro jogo da final, fui ao Maracanã com meu filho mais velho (o outro tinha só quatro anos) e – absurdo! – aceitei a companhia de um adversário, meu querido amigo santista Hermann Nass. Mas eles é que estavam otimistas, que tinham certeza do título, da vitória. A arrogância era tamanha que os caras comemoram a derrota de 2 a 1 aqui no Rio – mais à frente, morreriam pela boca, como frisaria um jornal carioca que tinha, como editor de esportes, um nada discreto alvinegro, o Cesar Seabra.

Vi a última partida em casa, um apartamento na Tijuca, cercado de todas as precauções prescritas no Manual Alvinegro de Sobrevivência, livro que decoramos antes mesmo de nascer. Superstições? Nada disso, apenas cuidados básicos, como usar aquela camisa e aquela cueca, manter aberta (ou fechada, sei lá, já faz tempo) a porta do quarto, impedir qualquer aproximação da então patroa, torcedora do time que evito nominar (ainda mais agora, na hora do jogo).

Jogo, que jogo? Não lembro de quase nada. Lembro do gol do Túlio (Maravilha, faz mais um pra gente ver!) – gol que só viria a ser contestado no intervalo, graças ao tira-teima. Na hora (confiram no VT, no Youtube), nenhum jogador santista reclamou, levantou o braço, correu pra cima do juiz ou do bandeira. Eles ainda empataram – um gol irregular, o Capixaba conduzira a bola com a mão antes de passá-la para o Marcelo Passos.

Tenso, comecei a delirar, meus olhos me traíam, tentavam fazer com que eu acreditasse numa sucessão de bolas chutadas no nosso gol, todas defendidas pelo Vagner. Nada daquilo aconteceu, ninguém poderia agarrar tanto assim (Jefferson não conta, estou aqui falando de seres humanos, não de ETs dotados de poderes sobrenaturais).

Acho que, depois do jogo, passei por General Severiano, tenho uma vaga memória de algum sanduíche e de incontáveis chopes no Cervantes. Ficou também, e para sempre, um adorável sabor de Seven Up, desde então, meu refrigerante favorito, Dom Pérignon de qualquer botafoguense.

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