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O julgamento da Árvore


Por Fernando Molica em 22 de dezembro de 2014 | Comentários (0)

Estação Carioca, O DIA, 01/12:

Ex-capital da colônia, do Império, da República e até de um reino europeu, o Rio acostumou-se a pensar em grandes questões nacionais. Isto se mostra até no voto — ao contrário de outros brasileiros, tendemos a não dar grande importância a questões regionais na hora de escolher nossos representantes. Por duas vezes, elegemos para o governo um gaúcho que conhecia pouco o estado, não escondia o sotaque e fazia questão de exibir o lenço vermelho no pescoço, símbolo de batalhas travadas em sua terra natal. Foi escolhido porque representava um protesto.
Mesmo políticos favoráveis à redivisão dos royalties do petróleo continuaram a ser acolhidos por aqui. Não gostamos da lógica provinciana. Muitos jornais de outras capitais tendem a exibir a marca regional em seus nomes — os daqui sempre revelaram, já no batismo, preocupações mais amplas ou genéricas.
Essa seriedade no trato dos grandes temas não travou, porém, nosso apreço por aquilo que, para muita gente, não tem qualquer importância. Um grande exemplo é o carnaval. Somos capazes de ficar horas tratando de questões abstratas, relacionadas a um prazer estético — o grande samba do ano, a escola que melhor se apresentou. Amigos de outras paragens chegam a duvidar de nossa sinceridade quando reafirmamos que, sim, cada um de nós tem uma escola de samba de coração. Na hora da conversa, critérios técnicos — evolução, harmonia — são deixados de lado. O que vale mesmo é algo mais subjetivo e simples, avaliar qual das escolas estava mais bonita. No julgamento popular, vence a agremiação que se revela mais bela, mais sedutora, mais atraente. Nessa hora, nem aquele militante de causa heterossexual, que costuma esbanjar preconceito em suas falas, tem vergonha de condenar o excesso de roxo ou de amarelo no Salgueiro ou na Ilha.
Acostumados a avaliar carros alegóricos, viramos também analistas dos fogos que marcam o Réveillon em Copacabana (já testemunhei vaias a apresentações chinfrins) e, de uns anos pra cá, da Árvore da Lagoa. Trata-se de uma iniciativa comercial, turbinada por incentivos fiscais, mas que se impôs ao calendário carioca e gerou filhotes pelo país. É razoável, portanto, submetê-la ao crivo popular, um julgamento imediato, feito assim que termina a festa de inauguração. A deste ano passou no teste, tem uma concepção simples — o revezamento entre dia e noite — e, ao se exibir verde, decorada com luzes coloridas, faz um carinho nas árvores de Natal domésticas. É candidata ao um desfile virtual das campeãs.

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