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O lado ativo da corrupção


Por Fernando Molica em 29 de julho de 2010 | Comentários (1)

Há uns anos – seis, sete, sei lá – sugeri ao Fantástico, onde então trabalhava, uma reportagem razoavelmente simples: testaríamos o funcionamento de um mecanismo básico da corrupção, a tal cervejinha para o guarda de trânsito. Queria saber até que ponto a iniciativa do suborno partia do motorista.

A Guarda Municipal topou a instalação de uma microcâmera num de seus funcionários. Conversei com o sujeito, expliquei que em nenhum momento ele poderia insinuar qualquer, digamos, possibilidade de desenrolo. A equipe acompanharia as abordagens de longe, dentro de uma van sem o logo da Globo.

Foi mole: a maioria dos motoristas flagrados cometendo alguma irregularidade (avanço de sinal, conversão proibida) ia até o guarda e propunha algum acordo. A velha história do “como é que a gente pode resolver isto, parceiro?” Uns falaram em dinheiro, outros na tal cervejinha – um ousou falar em pagar um guaraná.

Ou seja, a reportagem apenas comprovou o óbvio. A ideia da corrupção como mecanismo de resolução de problemas está entranhada entre nós. É mais fácil morrer numa graninha para o guarda do que acertar as contas com o Estado. Claro que a possibilidade do desenrolo estimula a infração – pelo menos, diminui o medo de cometê-la.

E é claro também que, numa emergência, em meio a uma tragédia, o recurso aos mecanismos informais e ilegais acabe sendo a primeira opção de muita gente. Só que, de vez em quando, a situação se complica, a vítima não é pobre, o crime tem repercussão, a sacanagem emerge. Mas, mesmo assim, nossos instrumentos de proteção social continuam a agir: os PMs subornados pelo pai do atropelador da Gávea estão presos; o autor confesso do suborno, o mesmo que admitiu ter tentado eliminar uma das provas do crime, continua solto. O cara ainda não foi sequer indiciado pelo crime que confessou ter cometido.

Ah, vale lembrar uma lição básica do jornalismo: notícia é o fato inesperado, quando um homem morde um cachorro. O inverso é usual, não merece destaque. Pois. Os jornais cariocas hoje dão destaque a dois PMs que – caramba! – não aceitaram suborno e ainda prenderam o autor da proposta. Pior: acho que os colegas não erraram ao enfatizar o caso.

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Comentários
30 de julho de 2010

Molica, essa questão de exaltação ao óbvio - que deveria ser corriqueiro e inerente a qualquer sociedade - é a tônica de nosso cotidiano. Parece que a exceção é quem faz o certo e não o contrário. E o caso daquele menino morto em Costa Barros está sendo investigado? Os envolvidos estão presos? Ou melhor, há alguma investigação em busca de respostas plausíveis? Infelizmente não sei as respostas. Mas a dor das mães desses rapazes certamente as corrói da mesma forma, apesar da subjetividade do sentimento.

FRANCISCO COSTA