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O nosso Paralamas


Por Fernando Molica em 18 de abril de 2021 | Comentários (0)

Eu uso óculos (7,5 de miopia), as meninas do Méier pouco olhavam pra mim (as do Leblon sequer sabiam da minha existência). Esses dois requisitos talvez tenham sido decisivos para este não roqueiro se identificar com os Paralamas do Sucesso.

Também ajudou o fato de Herbert, Bi e Barone nunca terem apelado para as caras de mau tão características de grupos de rock. Meu gosto musical regado pelo movimento então conhecido como MPB – o samba foi chegando aos pouquinhos – não entendia bem o porquê de tantas caras fechadas nas capas dos LPs adorados por tantos amigos.

Enfim, os três pareciam ser gente boa, daqueles caras que ficam horas conversando sobre alguma besteira qualquer, que jogam bola, que não se preocupam em exalar marra e revolta.

Pareciam felizes em fazer músicas descomplicadas, em exaltar um colega e sua moto, em tratar com leveza algumas dores de amores, os nossos tantos erros, a inútil busca de um romance ideal.

Eles faziam um rock mais leve, chegado ao reggae, com uma ou outra balada tão ao gosto do garoto que, como eu, tinha sido criado ouvindo Roberto Carlos e tantos cantores populares que chegavam aos rádios de Piedade. No fundo, os três – nós quatro – somos muito românticos.

Também gostava, e gosto, do Barão Vermelho, das canções mais duras, que ressaltavam a poesia cortante de Cazuza. Mas, sei lá, nunca me vi amigo do Cazuza, talvez ele fosse zona sul demais, enturmado demais com um povo que não daria muita bola para um suburbano como eu – os Paralamas eram, principalmente, de Brasília, subúrbio da vida cultural brasileira.

Tudo isso é pra dizer que ontem, depois do plantão, vibrei muito com ‘Os quatro Paralamas’, dirigido por Roberto Berliner (querido colega de faculdade) e Paschoal Samora. O quarto Paralama é José Fortes, desde sempre empresário do grupo.

O filme não é uma análise da obra dos Paralamas. É mais uma bem montada coletânea de histórias e de registros de muitos shows, registrados, anos a fio, por Berliner, o Robertinho da ECO/UFRJ. Quase como uma versão ampliada e em movimento de fotos antigas que, no documentário, são exibidas por integrantes do grupo.

Fotos antigas, muitas delas grudadas umas nas outras, danificadas – cicatrizes que, como as imagens defeituosas de antigas fitas VHS, valorizam cada pedaço de história. São histórias de três garotos meio desajeitados que conseguiram fazer muito sucesso, que embalaram amores e separações (o CD ‘Victoria’, trabalho solo do Herbert já colocou muito band aid nos meus cotovelos e coração). História marcada pelo acidente que matou a mulher de Herbert e o deixou paraplégico.

Apesar da tragédia, os Paralamas não acabaram, não deixaram de tocar, de compor, de fazer shows. Herbert continua a gravar, a tocar, a cantar. Que bom – não deixa de ser alguma esperança num momento de tanta tristeza. Envelhecemos, apanhamos, mas insistimos na juventude.

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