O Partido do Motorista Brasileiro
Por Fernando Molica em 01 de abril de 2012 | Comentários (0)
Coluna Estação Carioca, jornal O DIA, 28/3
Motoristas formam uma categoria especial no Brasil. Daria até para, com alguma ironia, criar um partido destinado a defender os seus interesses. Há exceções, nem todos comungam dos mesmos princípios, mas basta dirigir ou andar pelas ruas para perceber que os prováveis filiados ao PMB (Partido do Motorista Brasileiro) têm ideias e práticas parecidas.
Os integrantes do PMB dividiriam o mundo em dois — os que possuem e os que não possuem carro. Esta segunda categoria não tem a menor importância para os peemebistas: direitos dos pedestres e, eventualmente, os próprios pedestres têm mais é que ser atropelados.
Os princípios programáticos do PMB defendem limites à velocidade dos veículos — desde que estabelecidos pelo próprio motorista. Estuda-se a adoção do lema ‘Fé em Deus e pé na tábua’ — agnósticos e ateus preferem ficar só com a parte final da frase. O estatuto do partido dá ao motorista o direito de piscar faróis e colar na traseira de qualquer mané que, na pista da esquerda, ousar respeitar os limites estabelecidos pelas autoridades de trânsito. Prováveis filiados ao PMB defenderão a livre caça aos pardais e a quaisquer outros mecanismos de controle de velocidade. Promoverão concursos anuais de tiro ao radar.
Se depender dos peemebistas, a Lei Seca será desidratada. Todo motorista terá o direito de encher a cara e dirigir. Em caso de acidente, a culpa será transferida à vítima — quem mandou ficar andando na calçada mesmo sabendo que havia vários bêbados ao volante? A proposta do partido para revisão do Código de Trânsito Brasileiro equipara placas e sinais a alegorias carnavalescas: as luzes verde e vermelha (esta, principalmente) terão efeito decorativo.
Sinais exclusivos para pedestres serão retirados das ruas assim que o PMB chegar ao poder — não servem nem como enfeite. Qualquer espaço poderá ser utilizado como estacionamento gratuito. Calçada é lugar de carro — ponto. Pedestres que aprendam a voar. Multas terão o mesmo destino dado por jogadores do Flamengo ao manual que mandava todos irem cedinho para a cama: virarão bolinhas ou aviõezinhos de papel.
Defensor da livre iniciativa ao volante, o PMB prega uma espécie de seleção natural; crê que, matando uns aos outros, teremos uma sociedade melhor. Não vai sobrar muita gente, os próprios motoristas serão vítimas da selvageria, mas, em compensação, o trânsito vai ficar bem menos engarrafado.