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O perdão de Crivella e o ideário da Igreja Universal


Por Fernando Molica em 19 de outubro de 2016 | Comentários (0)

Os sucessivos pedidos de perdão do senador Marcelo Crivella (PRB) em relação ao que escreveu, organizou e compôs no passado esbarram num ponto fundamental, a continuidade de sua ligação com a Igreja Universal do Reino de Deus (IURD).

Embora licenciado da condição de bispo, o candidato à prefeitura do Rio em nenhum momento se disse rompido com a denominação fundada por seu tio Edir Macedo, fonte de todas as posições que ele já defendeu.

Os conceitos apregoados por Crivella em ‘Evangelizando a África’, as frases de Macedo que ajudou a selecionar e publicar em “501 pensamentos do Bispo Macedo” e a canção “Um chute na heresia” (que ironiza a reação ao chute numa imagem de Nossa Senhora Aparecida) correspondem ao ideário da IURD.

Desde sua fundação, a IURD se caracteriza pela ênfase de seus conceitos e pela violência verbal com que são pregados. Estas características embalaram o crescimento da denominação e, ao mesmo tempo, geraram reações negativas até mesmo de outras igrejas e lideranças evangélicas.

As críticas de Crivella às religiões de matriz africana, ao catolicismo e ao que classifica de “idolatria” não representam qualquer novidade para quem acompanha, ainda que longe, a trajetória de sua igreja.

O mesmo vale para papel decisivo atribuído ao diabo na geração de doenças, vícios e, mesmo, homossexualidade. O foco na necessidade do dízimo, das ofertas e dos sacrifícios também faz parte da lógica da IURD, assim como a existência de uma relação direta entre essas contribuições a Deus e a obtenção de prosperidade.

Em seu livro ‘Vida com abundância”, de 1993, Macedo deixa isso bem claro, fala em “espíritos devoradores”, na cura de doenças e frisa que o dizimista é um “sócio de Deus”.

Nos últimos dias, Crivella tem pedido perdão e admitido que já foi intolerante. Procura mostrar que, hoje, não pensa do mesmo jeito. O problema é que, em nenhum momento, ele citou que tudo o que foi dito por ele no passado continua a ser pregado pela igreja que ajudou a organizar.

Ele também não explica a demora nos pedidos de desculpas. As retratações só ocorreram depois de o senador ter sido avisado que livros e canção seriam objeto de reportagens.

No e-mail que enviei à assessoria de Crivella a respeito da matéria sobre “501 pensamentos do Bispo Macedo”, perguntei se sua eventual discordância em relação às questões citadas no livro não representaria um rompimento com a Igreja Unversal do Reino de Deus. A pergunta ficou sem resposta.

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