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O PSOL e as dores do crescimento


Por Fernando Molica em 26 de outubro de 2012 | Comentários (0)

Coluna Estação Carioca, jornal O DIA, 10/10:

A boa votação do Psol no Rio e em algumas cidades brasileiras faz lembrar os primeiros anos do PT, partido que se anunciava diferente de todos os outros, que surgia de uma curiosa associação entre sindicalistas, professores e estudantes universitários, veteranos militantes da esquerda e católicos ligados à Teologia da Libertação. O PT era uma espécie de penetra, aquele sujeito não convidado que acaba roubando as atenções da festa. Um partido de esquerda cujo principal líder fugia ao ser perguntado se era socialista: “Sou torneiro-mecânico”, respondia Lula.

O tal partido que dizia ser contra tudo e contra todos, demorou para eleger prefeitos, senadores e governadores. Em 1985, expulsou deputados que votaram em Tancredo Neves; quatro anos depois, perto de chegar à Presidência, rejeitou o apoio de Ulysses Guimarães, talvez o principal nome da oposição parlamentar à ditadura.

Cansado de apanhar, o PT resolveu encarar as suas contradições, mandou às favas boa parte de seus escrúpulos e passou a jogar o jogo que há muito vinha sendo jogado por setores tradicionais da política brasileira. Ganhou a Presidência, o apoio de políticos como José Sarney e Jader Barbalho, e, agora, comemora resultados das eleições ao mesmo tempo em que vê ex-dirigentes ameaçados de ir para a cadeia.
Nascido de uma costela do PT, o Psol tenta recuperar o espírito daquela antiga estrela vermelha. Chega a ser engraçado ouvir discursos de algumas de suas lideranças — lembram muito os petistas de outrora. Ao mesmo tempo, é emocionante constatar o afeto que se encerra no peito juvenil de tantos de seus entusiastas. Há uns 30 anos, o querido amigo Claudio Lacerda, então colega de redação, não se cansava de ironizar o PT, dizia que o recém-fundado partido seguiria o caminho do velho PTB, se burocratizaria, se amarraria ao Estado e à viciada estrutura sindical. Ele, de certa forma, ganhou a aposta.

Hoje, diante da conquista de prefeituras pelo Psol e da disputa do segundo turno por alguns de seus candidatos, será curioso acompanhar sua trajetória, verificar se fará alianças, se aceitará o apoio de políticos identificados como conservadores ou mesmo corruptos. O partido vai se deparar com as tais dores do crescimento, terá que conciliar sonhos e exigências da vida prática. Um conflito perigoso mas que, quando bem administrado, ajuda a amadurecer pessoas e instituições.

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