O retorno da Província Cisplatina
Por Fernando Molica em 22 de dezembro de 2014 | Comentários (0)
Estação Carioca, O DIA, 22/9:
Em tempos de tantas ameaças de separação — por pouco escoceses não serviram a saideira para os ingleses, catalães querem deixar de ser espanhóis –, opto pela união e convido uruguaios a voltar para casa, para o Brasil. Ocupado por tropas luso-brasileiras em 1817, o território do país vizinho foi anexado ao Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves em 1921 com o nome de Província Cisplatina. Ficou entre nós até 1828, quando se tornou independente.
Não se ofendam, amigos uruguaios. Longe de mim propor qualquer invasão, todos queremos paz. Mas acho que poderia ser bom para vocês ganharem mais espaço, seria como sair de um quarto e sala para um casarão com vista para o mar, montanhas, rios e florestas. Vocês também teriam direito a participar de uma economia que, apesar de alguns recentes solavancos, é dinâmica e próspera.
Há também, admito, uma certa inveja de minha parte. Apesar dos problemas, da população diminuta (em torno de 3,5 milhões de pessoas), vocês apresentam alguns índices sociais bem melhores do que os nossos — 98% de alfabetizados, 50º lugar no IDH, índice que mede a qualidade de vida (o grandalhão aqui está na 79ª posição).
A carne produzida por aí dá de goleada na nossa, o vinho de vocês também é bem melhor. A serenidade, a coragem e o desapego aos luxos do poder demonstrados pelo presidente José Mujica seriam um ótimo exemplo para os nossos políticos.
Daí achar que a união seria vantajosa para os dois. No futebol, teríamos sete copas e duas medalhas de ouro olímpicas. Poderíamos fazer com que, na nossa camisa azul, o tom marinho desse lugar ao celeste — nosso segundo uniforme poderia ser o principal nas Olimpíadas, em homenagem a vocês.
Teríamos prazer em ser um país bilíngue, em receber autores como Horacio Quiroga, Juan Carlos Onetti e Eduardo Galeano. Vocês se orgulhariam de Machado de Assis, Guimarães Rosa e Graciliano Ramos. Seriam capazes de jurar que Nelson Rodrigues viveu em Montevidéu, identificariam semelhanças entre muitos de seus textos e letras de tangos, estilo tão cultivado por aí quanto do outro lado do Prata.
E, por falar em tango: muitos sustentam que Carlos Gardel nasceu em território uruguaio. Imaginem como ficariam os hermanos argentinos quando, depois da fusão entre nossos países, pudéssemos dizer que Gardel é… brasileiro! Não, deixa pra lá, seria um golpe baixo demais de nossa parte, ia acabar dando confusão. Melhor deixar tudo como está. Boa semana pra vocês, abraços no Mujica e no Loco Abreu.