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O senador perdeu, a sociedade ganhou


Por Fernando Molica em 25 de abril de 2011 | Comentários (0)

Coluna Estação Carioca, jornal O Dia, 20/4:

Sem querer, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) deu uma grande contribuição à vida pública brasileira. Tudo porque veio a público o mico protagonizado por Sua Excelência que, ao ser parado por uma blitz da Lei Seca, se recusou a fazer o teste do bafômetro. Ele e sua assessoria tentam limitar o episódio à carteira de motorista vencida, mas o problema, sabemos, não foi esse. O grave foi a recusa ao teste, sinal de que o senador não deveria estar assim tão sóbrio. Afinal, ele sabia que, ao não soprar no canudinho, receberia multa de R$ 957,69.

O bom dessa história toda é que o constrangimento imposto ao quase carioca Aécio — senador da República, ex-governador de Minas e possível candidato à Presidência — revelou algo inusitado entre nós. Mostrou que, ora veja só, a lei, pelo menos a Seca, é para todos. Talvez por isso as operações do bafômetro incomodem tanto. Nelas, até prova em contrário, não é possível dar uma carteirada ou puxar uma conversa relacionada a outro tipo de cervejinha. A Lei Seca tem sido aplicada com rigor, situação talvez explicável pela composição de suas equipes de rua, pessoas ligadas a diferentes setores da administração. As operações não são feitas apenas por integrantes de uma mesma corporação, o que dificulta eventuais acertos.

Não estávamos acostumados com esse negócio de lei para todos. A Lei Seca é quase uma excrescência no país das prisões especiais e do foro privilegiado, país que permite a um assassino confesso — o jornalista que matou a namorada — aguardar em liberdade o julgamento de intermináveis recursos. As operações que engarrafam nossas noites são importantes não apenas para reprimir bebuns ao volante, mas também para revelar que ninguém está acima da lei.

Portanto, senador, muito obrigado. O episódio da madrugada de domingo acabou sendo uma ótima lição para todos, ajudará a inibir os que insistem em dirigir depois de beber, o que evitará acidentes e vítimas. O recado foi bem claro. Se um homem como Vossa Excelência — senador, amigo do governador do Rio — está sujeito aos rigores da lei é melhor todo mundo ter cuidado: é pra valer, ninguém pode beber e dirigir. Como o senhor bem ressaltou em seu primeiro discurso no Senado, “o poder conquistado nas urnas ou a popularidade de um líder não lhe conferem licença para ignorar a Constituição e as leis”. De carioca para carioca: boa, cumpadi; valeu, bródi; é isso aí, mermão.

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