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O sol que esquenta o mercado editorial*


Por Fernando Molica em 26 de agosto de 2018 | Comentários (0)

É até sacanagem frisar que a biografia do Geovani ajuda na divulgação do livro. Claro que ajuda, mas, caramba, escritores de biografias semelhantes sequer conseguiam publicar livros, muitos continuam sem conseguir. Ao longo do tempo, histórias de vida como como as dele mais atrapalharam do que ajudaram. E de nada adiantaria o ótimo trabalho de marketing da editora se o livro não tivesse valor.

Lançado em meio a uma grave crise do mercado editorial, ‘O sol na cabeça` levanta discussões importantes sobre a publicação de autores brasileiros contemporâneos. O sucesso comercial do livro mostra que, sim, há mercado para publicações de qualidade, que livro de prêmio pode ser também livro de vendas. Há um público capaz de comprar esses livros, desde que saiba de sua existência, que confie nos editores, que tenha acesso a um material crítico rigoroso, mais preocupado em discutir o autor do que em ressaltar teses e qualidades do resenhista.

Por conta da recessão e da ameaça de fechamento de grandes varejistas, as editoras passaram a jogar na retranca, reduziram e adiaram lançamentos, diminuíram contratações. Isto é péssimo, mas pode ser bom. Com menos dinheiro, o mercado tende a ser mais seletivo, deverá cuidar melhor do que é lançado. Livro é um produto complicado, artesanal, que não combina com a lógica de produção em massa. Um livro é fruto de muito trabalho de todos os envolvidos em sua produção – é justo e, mais do que nunca, necessário, que cada um seja tratado de maneira cuidadosa por todos os que fazem parte desse processo, o que inclui jornalistas que selecionam o que merece ou não ser divulgado.

Divulgação, repito, não faz milagre, não transforma livro ruim em bom. Mas possibilita que um bom livro seja lido, que não seja apenas mais um entre os tantos e tantos que, todos os dias, formam trincheiras nas mesas de repórteres e editores de cultura. Trincheiras que, com frequência, assumem o papel de impedir a chegada de qualquer novidade.

*Este texto é um comentário que fiz sobre post de Henrique Rodrigues no Facebook sobre o livro ‘O sol da cabeça’, de Geovani Martins.

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