O voto do Bruxo
Por Fernando Molica em 20 de agosto de 2008 | Comentários (0)
Os integrantes da ABL decidem nesta quinta quem vai ocupar a vaga de Zélia Gattai; a cadeira 23, que já foi de Machado de Assis. Fantasmas da Academia asseguram que há dois favoritos: o jornalista Luiz Paulo Horta e o escritor Antônio Torres, com alguma vantagem para o primeiro.
Quem conhece a ABL sabe que a instituição não se propõe a ser apenas uma casa de escritores, tem a ambição de reunir uma elite da inteligência nacional. Sim, exige que o postulante a uma cadeira tenha publicado, pelo menos, um livro. Mas não se define como uma reunião apenas de literatos: Nelson Pereira dos Santos está lá para provar isso.
Mas é claro que os escritores é que dão espírito e sentido à instituição. A credibilidade da ABL, tão abalada na ditadura, foi recuperada, em boa parte, graças à eleição de nomes como João Ubaldo Ribeiro, Ariano Suassuna, Ana Maria Machado, Moacyr Scliar e Nélida Piñon. Nas últimas duas décadas, a ABL voltou a respirar, recuperou prestígio e força.
Bem, sabe-se lá o que entra em jogo numa eleição pra Academia (volto a recomendar o excelente “Farda, fardão, camisola de dormir”, do Jorge Amado). O Horta é um ótimo jornalista, articulista sóbrio, referência na divulgação e crítica da chamada música clássica. Mas o problema é que seu principal adversário, o Antônio Torres, tem muito mais a ver com a vaga. É um grande escritor, autor de alguns clássicos contemporâneos, traduzido e estudado em muitos países, vencedor dos prêmios Zaffari & Bourbon e Machado de Assis – este, oferecido pela própria ABL, pelo conjunto de sua obra.
Sei não: seria meio esquisito a Academia não eleger um vencedor de seu prêmio máximo, prêmio que leva o nome do fundador da Casa. Isso, no ano do centenário de Machado de Assis. Um acadêmico que vai se sentar na cadeira que foi d´Ele. Machado, tenho certeza, votaria em Torres.