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O voto no Temer


Por Fernando Molica em 17 de maio de 2016 | Comentários (3)

Cidadãos favoráveis ao impeachment provocam os que são contra: alegam que estes, quando votaram na Dilma, também elegeram o Temer, logo, não podem reclamar de nada. O argumento faz algum sentido, mas há outras questões a serem levadas em conta.

1. A entrega da vice a um outro partido implica em concessões, legítimas (no caso, um governo mais ao centro) e ilegítimas (aquelas que a gente conhece). Mas, em tese, a chapa estaria unida em torno de um proposta de governo – e, em 2014, havia projetos muito bem definidos, a eleição adquiriu no segundo turno um viés ideológico claro, algo que contribuiu para o acirramento de paixões e para a divisão do eleitorado.

Outro dia, consultei no site do TSE o programa de governo da chapa Dilma-Temer. É um negócio bem genérico, muito voltado para as realizações de governos petistas. Mas é uma referência, algo que, com o eventual afastamento da presidente, deveria ser seguida pelo vice. Mas o programa que ele apresentou em outubro passado, o Uma ponte para o futuro, não tem nada a ver com o que ele ratificou em 2014 (e que nem vinha sendo assim tão respeitado pela Dilma).

O Plano Temer, como era chamado pelo Moreira Franco, é até mais radicalmente liberal que o defendido pela chapa Aécio-Aloysio. Fala em desindexação do salário mínimo de inativos, em idade mínima para aposentadoria, no fim da vinculação constitucional de verbas para saúde e educação. Quem votou em Dilma-Temer em 2014 não ratificou o programa que o então vice apresentaria um ano depois.

2. Votar na chapa que unia PT e PMDB incluía a possibilidade de permitir que Temer chegasse ao poder (políticos também ficam doentes, podem morrer no exercício do mandato). Mas ninguém imaginaria que o vice fosse trabalhar abertamente pelo impeachment da titular. Não dava para prever que, dez meses depois da posse, ele apresentasse um programa de governo voltado não para 2018, mas para 2016, para ser aplicado após a derrubada da presidente. É como se, lá atrás, o PFL de Antonio Carlos Magalhães tivesse se aliado ao impeachment de FHC tentado pelo PT. Isto para fazer com que o vice, o pefelista Marco Maciel, virasse presidente. Tucanos arrancariam suas penas e bicariam sem dó os ex-aliados caso isso tivesse ocorrido.

3. A história não costuma ser simples – a nossa, então, é complicada demais. Eleitores da Dilma são obrigados a reconhecer que votaram também no Temer, mas têm o direito de dizer que não votaram neste Temer, mas naquele que compartilhou uma outra proposta de governo, que jurou fidelidade à companheira de chapa e que parecia conformado no papel de vice decorativo.

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Comentários
27 de maio de 2016

Ok. Isto faz sentido em uma política "normal", o que não é o nosso caso. O mundo não consegue entender como um presidente pode ser substituído por um vice de outro partido/ideologia! Mas a pergunta mais correta seria: o que estão fazendo juntos na mesma chapa eleitoral pra começo de conversa? Além disso, fica difícil argumentar contra a mudança ideológica do governo, uma vez que a própria Dilma mudou radicalmente suas ações quando comparada ao seu discurso de campanha. Precisamos de chapas "puro-sangue" com programas bem definidos para que a população possa escolher concientemente em quem votar.

Rod
26 de maio de 2016

Que bom conseguistes organizar argumentos. Fica mais fácil argumentar .

Rachel Reis de Araújo
26 de maio de 2016

Isso é balela. Aécio teve mais votos do que o PT no RS, SC, PR, SP, ES, MS, MT, GO, AC, AP.

Luiz Carlos P. Oliveira