O Zangado e os Dungas
Por Fernando Molica em 11 de maio de 2010 | Comentários (4)
Não há qualquer surpresa na convocação. Dunga não foi chamado pela CBF por suas qualidades como técnico. Foi chamado para acabar com a bagunça que a própria CBF ajudou a promover na Copa da Alemanha. A CBF não chamou um técnico, convocou um bedel; um sargentão, que cultiva o discurso que identifica seleção com a Pátria. Uma pessoa que admite qualidades na ditadura. Um sujeito amargo, agressivo, que – apesar da carreira vitoriosa como jogador e, até agora, como técnico da seleção – não se conforma em ter sido classificado como sinônimo de mediocridade. Ele nunca engoliu a história da tal “Era Dunga” (se não me engano, uma boa sacada do antigo JB para definir a mesmice e a previsibilidade da seleção de 90, a do Lazaroni).
Em 1994, Dunga fez uma ótima Copa, uma atuação reconhecida por todos. Mesmo assim, capitão do time, levantou a taça com raiva, com ódio, aos palavrões. Não havia alegria, havia sentimento de vingança. No momento de glória, Dunga optou por externar um sentimento menor. Ele não parece ter mudado, quer ganhar a Copa não para comemorar, mas para provar que estava certo. Dunga parece ver a felicidade pelo avesso.
Além de turrão, adepto da lógica do fiscal de alunos, Dunga chama de coerência o que não passa de patotagem: convocou não os melhores, mas os que mais se submetem à sua lógica. Como técnico, Dunga confunde alegria com bagunça – isso ajuda a explicar a ausência do Neymar e do Ganso. Em sua cabeça de bedel, a alegria é algo ameaçador, perigoso.
A não-convocação de Adriano é explicável – como ouvi há pouco no rádio, o atacante do Flamengo fez de tudo para ficar de fora da seleção. Pelo comportamento dele nos últimos meses seria até razoável prever que ele viesse a fugir da concentração para botar uma carne na brasa num canto qualquer da África do Sul. Dunga não tolera indisciplina – ao cortar Adriano, agiu de forma previsível; neste caso, com razão: gordo daquele jeito, o Adriano não merecia ser chamado.
Bedel amargurado – apesar, repito, de sua vitoriosa carreira -, o técnico da seleção criou um time à sua imagem e semelhança: responsável, aplicado, limitado. O técnico da seleção trocou de papel, passou a interpretar o anão Zangado e escalou um time de Dungas, um grupo de esforçados trabalhadores. O problema é que, no fim da história, os sete anões perderam a mocinha para um príncipe encantado. Resta torcer para o Robinho ser o nosso Feliz.
Gostei da análise. Acho também que um certo dirigente do futebol brasileiro já se encontrá lá há uns trinta anos... Poderia haver uma certa rotatividade neste cargo, quem sabe colocando lá um ex-jogador de futebol. Abraços em todos, e vamos torcer mesmo assim por nossa "seleção", com todas suas virtudes e defeitos.
RAFAEL BEVILAQUACaríssimo, obrigado. Também fiquei surpreso com a atenção despertada pela divulgação da lista de Dunga. Acho que, de uma certa forma, o Neymar e o Ganso representavam uma tentativa de, sei lá, nacionalização (com aspas) da seleção. Uma busca meio inconsciente de trazer a seleção para perto. Hoje o time é formado por jogadores que pouco jogaram no Brasil, são desconhecidos da maioria da população. O Neymar, com aquele jeitão de motoboy paulista, é bem a cara de um Brasil. Fora que os dois são exemplos de um futebol mais alegre, divertido. O Dunga - o Zangado - deu uma de paizão, tão ao gosto de um certa mentalidade autoritária que ainda persiste entre nós. É como se el nos tivesse negado uma diversão, um doce. No fundo, ele nos tratou como criança, dizendo saber o que é realmente bom para nosostros. abs. Ah, vc tem razão, faltou o Meirelles...
Fernando MolicaCompanheiro, Falou e disse tudo. Fiquei surpreso com a atenção que a convocação provoucou na população. todos esperavam algo presumido e já previsto. A grande surpresa é o Grafite. E a dúvida: a camisa dele será 0.7 ou 0.5? Com tantos jogadores reservas e especilistas em Banco, ficou faltando apenas o Henrique Meireles, no Banco (Central) há quase 8 anos.
betoPerfeito, assino! (com a ressalva de que levaria o Adriano, posto que tem características específicas e que em um mês fica em forma). Abs.
Eduardo Carvalho