Os baluartes no palco Candeia
Por Fernando Molica em 10 de agosto de 2015 | Comentários (0)
Coluna Estação Carioca,View image, 03/08.
Sábado, na Portela, durante a apresentação da Velha Guarda, Monarco deixou o microfone, recuou alguns metros no palco e foi para trás da cadeira onde estava sentado outro baluarte da escola, Waldir 59, de 88 anos. A diferença de idade entre os dois — seis anos — parece maior. Monarco não cansa de desafiar os quase 82 anos que o calendário cisma em lhe impor; cego há 13 anos, Waldir precisa que seus passos sejam escoltados e guiados por outras pessoas.
Presença frequente na quadra, Waldir estava lá por um motivo ainda mais especial, a homenagem a Candeia que, morto em 1978, completaria 80 anos no próximo dia 17. Os dois foram parceiros em cinco sambas de enredo da escola — sábado, o palco do Portelão foi batizado com o nome de Candeia, compositor que dedicou boa parte de sua vida à luta pela afirmação dos negros.
De chapéu panamá, camisa azul de mangas compridas, calça e sapatos brancos, Waldir cantarolava e acompanhava com os braços os sambas que a Velha Guarda e a também portelense Teresa Cristina interpretavam. Foi quando Monarco fez a caminhada até o amigo, apoiou as mãos nas costas da cadeira, apoio que servia de descanso, mas que era também carinho naquele que é mais velho, abraço de filho que protege o pai. Ao fazer com que Waldir ficasse à sua frente, ele reforçou o compromisso com os que vieram antes, que construíram a escola.
Depois, Monarco foi para a frente do palco, voltou a cantar e levantou o braço direito numa saudação ao público. Alguns metros atrás, Waldir — que não podia ver o que se passava — também levantou seu braço. Coreografia espontânea, que aponta para o passado, para o presente e para o futuro da sempre querida Portela.