Os grampos enferrujados
Por Fernando Molica em 18 de julho de 2016 | Comentários (0)
Não consigo entender bem a razão dessa polêmica em torno das gravações do Lula. Até onde me lembro da história, os efeitos que poderiam ser gerados pelos grampos já ocorreram.
As gravações – em especial o grampo da conversa com a Dilma, feito depois de encerrada a autorização para a interceptação e mesmo assim divulgado pela Justiça – foram determinantes para anular a posse do ex-presidente na Casa Civil.
A ausência do Lula no governo foi fundamental para a aprovação do impeachment na Câmara, ele seria o fiador das promessas feitas aos deputados que então leiloavam seus votos – escaldados por nomeações não cumpridas, os caras não confiavam na Dilma. Mas eles, por experiência própria, sabiam que podiam acreditar no ex-presidente que fizera alianças com Sarney e Jader Barbalho.
A gravação influiu até na decisão da Procuradoria da República de se manifestar contra a posse do Lula – a ida do ex-presidente para o ministério acabou sendo interpretada apenas como uma tentativa de impedir uma ordem de prisão que seria dada pelo Moro.
O Lula, em plano gozo de seus direitos como cidadão (não digo que ele é inocente, apenas que não foi condenado nem denunciado), acabou impedido de assumir um cargo para que não fugisse de uma determinação da Justiça que até hoje não ocorreu. E a divulgação da gravação, insisto, teve um papel decisivo nisso.
Lula não virou ministro e, pelo menos até agora, não foi preso.Mas o impeachment acabou aprovado na Câmara e na primeira votação no Senado.
As gravações também contribuiram para afastar Eduardo Paes da Dilma – pesquisas internas mostraram que muitos eleitores cariocas ficaram irritadíssimos ao ouvir o prefeito afirmar que era soldado do Lula. Dias depois da divulgação do grampo, Pedro Paulo, que tenta se viabilizar como herdeiro de Paes, reassumiu o mandato para votar pelo impeachment.
No fim das contas, ficamos sabendo também da existência do Bessias, confirmamos que Lula e a patroa falam muitos palavrões e que o prefeito do Rio não gosta de Maricá.