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Os queridos times de nossas aldeias


Por Fernando Molica em 31 de março de 2013 | Comentários (0)

Coluna Estação Carioca, jornal O DIA, 13/3:

Outro dia, topei com reportagem sobre os primeiros dias de Lucas, ex-São Paulo, no Paris Saint-Germain. A matéria revelou um sujeito muito à vontade no moderno universo do futebol. Tanto que ele me surpreendeu ao falar de seu grande objetivo. Perto de uma Copa no Brasil, tentei antecipar sua resposta. Claro que o craque diria estar focado no hexa. Errei. Revelou ser movido pela possibilidade de ser eleito o melhor do mundo.

Ao dizer que seu maior alvo é individual, não coletivo, o jogador, de 20 anos, mostrou adaptação ao meio, à lógica do cada um por si. Astro de um grande negócio, é justo que pense em sua carreira de maneira empresarial, se vê como um produto que vai sendo inserido no mercado. Não por acaso, seu primeiro pouso é na França, país de menor importância no futebol. Depois da Copa, deverá migrar para a Inglaterra, Espanha ou Itália.

É justo que os artistas que movimentam essa máquina sejam muito bem remunerados, sem eles não haveria futebol. Mas talvez o mesmo processo que anima o Lucas ajude a explicar nossa relação meio morna com a seleção brasileira. Os interesses comerciais que envolvem o esporte e a velocidade com que jogadores são revelados e exportados minam nosso entusiasmo. Mal conseguimos identificar muitos dos convocados, alguns saíram do país com menos de 18 anos, não tiveram tempo de conquistar um lugar no coração dos torcedores.

Esse Diego Costa, chamado pelo Felipão, estreou no futebol profissional, aos 17 anos, lá em Portugal. O desconhecimento alimenta desconfianças — seu empresário é o mesmo do técnico brasileiro — e contribui para que fiquemos reticentes com a Seleção. Os jogadores, assim como o capital, não têm mais pátria, muitos dos convocados são brasileiros apenas pelo acaso de terem nascido aqui, construíram suas vidas no exterior.

Perdidos neste admirável e desconhecido mundo novo futebolístico, ficamos cada vez mais ancorados em nossos próprios times. Neles, até jogadores estrangeiros se tornam íntimos; acabam, digamos, nacionalizados: foi assim com o Petkovit (que virou Pet) e o Loco Abreu. Arrisco dizer que a maioria dos torcedores brasileiros trocaria a vitória na Copa por uma grande conquista de seu clube. Eu troco. Do meu time eu entendo, conheço virtudes e falhas, sou capaz de aplaudir e cornetar com alguma razão. Em meio a tanto desenraizamento, nada melhor que a companhia do querido time da minha aldeia.

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