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PONTOS DE PARTIDA, O BLOG DO MOLICA

Overdose de Sarney


Por Fernando Molica em 13 de agosto de 2009 | Comentários (8)

Para quem acha que um Sarney já é demais. Na noite de 14 de março de 1985, fui a um cinema para ver uma sessão da Mostra Glauber Rocha, que rolava aqui no Rio. Do programa fazia parte o curta “Maranhão 66”, que mostrava a posse de José Sarney no governo do Maranhão.

No dia seguinte, acordei cedo e liguei a TV para acompanhar a posse de Tancredo Neves na Presidência da República. A primeira imagem que surgiu foi a do então governador Leonel Brizola embarcando para Brasília – não entendi nada, o sujeito tinha afirmado que não iria à posse. Corte: um carro preto, fechado, cruza a Esplanada dos Ministérios. Uai, o Tancredo não iria em carro aberto? Dentro do veículo – o locutor informou – ia José Sarney, vice-presidente eleito, pronto para ser empossado… na Presidência! Outro corte: um repórter em frente a um hospital fala algo sobre uma cirurgia a que Tancredo havia sido submetido. Comecei a ficar em pânico, aquilo não podia estar acontecendo. Devia ser coisa do Glauber ou efeito do Churrasco à Tancredo (com tutu e couve – eu era jovem!) que eu comera, no Aurora, depois do cinema.

Apavorado, peguei o telefone e liguei para o Antônio Cunha, então chefe de reportagem da sucursal-Rio do “Estadão”, onde eu trabalhava (sim, eu já trabalhava naquela época – vale lembrar que o Estatuto da Criança e do Adolescente não havia sido criado). O queridíssimo Cunhão me acalmou, disse que Tancredo tivera uma diverticulite, fora operado e que, em poucos dias, assumiria a Presidência. Eu nunca ouvira falar em diverticulite, mas achei que dava para ficar calmo.

Voltei à TV, ao carro preto e ao Sarney, prestes a ser empossado, prontinho para receber a faixa presidencial (que sequer lhe seria entregue pelo seu antecessor: o general João Baptista de Oliveira Figueiredo. O inesquecível último presidente militar sairia do Planalto pelos fundos – ô metáfora! – para não encarar o ex-aliado que virara inimigo. O bigodudo já então sabia muito bem a hora de mudar de rumo). E tome de Sarney no Congresso, de Sarney no palácio. Um cerco, uma sucessão de golpes: em menos de doze horas, eu acompanhava uma segunda posse de Sarney – uma em São Luís, outra em Brasília. Glauber não teria imaginado uma montagem mais absurda e cruel.

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Comentários
02 de outubro de 2009

Beijos, Anna. O Cunhão será sempre lembrado com muito carinho.

Fernando Molica
02 de outubro de 2009

Molica, parabéns pelo Blog!!!! Adorei a lembrança feita ao meu querido pai Antonio Cunha. Um beijo, Anna Beatriz Cunha.

Anna Beatriz Cunha
16 de agosto de 2009

Obrigado, rapá! abração.

Fernando Molica
15 de agosto de 2009

Fala, homem de Piedade! Fiquei um tempo sem escrever por aí mas o meu pequeno texto de hoje é dedicado à você. Hoje é 15 de agosto. Sâo 100 anos da tragédia suburbana mais passional e literária da história do Brasil. Passa lá! Abraços!

Diego Moreira
15 de agosto de 2009

Tá vendo, a provocação surtiu efeito. Espero não voltar a ser trocado pelo Hugo Chavez... Abraços, inté.

Fernando Molica
15 de agosto de 2009

Rapaz, e olha que coincidência. O Ponto de Partida estava na cabeceira, mas te confesso que foi passado pra trás por outros latino-americanos. Aí eu vi você zoando com minhas tuitadas lá com o Alon, e resolvi pegar de novo o livro; e a página estava marcada exatamente no teecho que v. reproduziu aí no blogue. Que, aliás, segue genial. V. tem futuro, Moliquinha. Te vejo em Passo Fundo, tchê!

SLeo
15 de agosto de 2009

Irei lá, meu caro astronauta virtual. Brás de Pina já deve ter se acostumado com essas suas esquisitices... Por falar no tiro. Hoje é 15 de agosto, 60 anos de glória.

Fernando Molica
15 de agosto de 2009

Pois é Molica, Depois viria a história do misterioso tiro testemunhado pela Glória Maria... Querido, queria muito convidar você para conhecer o nosso espaço virtual, www.passavantecr.blogspot.com Aí se Brás de Pina me ouvisse falando "espaço virtual".... Abraço, CR

Claudio Renato