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Palpite infeliz


Por Fernando Molica em 27 de julho de 2009 | Comentários (5)

Claro que a busca de uma linguagem politicamente correta tem lá seus exageros. Aquela história de chamar anão de “verticalmente prejudicado” é quase risível (tá bom, é risível mesmo). A adoção de termos como afro-brasileiro também soa esquisita: pior, embute a idéia de que negros, os tais afro-brasileiros, seriam menos brasileiros que os outros. Ninguém fala, por exemplo, em “euro-brasileiros”.

Enfim: rola no twitter uma polêmica. O humorista Danilo Gentili, do programa “CQC”, fez o seguinte comentário durante a exibição do filme “King Kong” num canal pago (retiro a citação do blog do Maurício Stycer):

“Agora no TeleCine King Kong, um macaco q depois q vai p/ cidade e fica famoso pega 1 loira. Quem ele acha q é? Jogador de futebol?”

No blog do Stycer, o Gentili se defende, diz que o politicamente correto está deixando as pessoas idiotas. Sei não. No caso específico, o Gentili pisou feio na bola, o comentário tem uma nítida conotação racista – independentemente, claro, das intenções de seu autor. Não tenho o menor direito de chamá-lo de racista, é mais correto dizer que foi um palpite infeliz. O humor está acima de tudo? Por que está? Acho que não. Todos temos responsabilidade sobre o que falamos e escrevemos. A tolerância com o humor não pode ser pretexto para a ofensa – e o comentário do Gentili dá margem para a ofensa. Insisto: o politicamente correto tem lá muitos exageros, mas acho bom que, hoje em dia, sejam menos comuns piadas racistas e sexistas. Não deixa de ser bom que palavras como “judiar” tenham sido praticamente banidas.

Claro que o limite é tênue – palavras como “preto” e “judeu” podem ou não ser usadas de forma discriminatória. Depende de quem as fala, de como as fala e, principalmente, de quem as ouve. Nos casos em que ocorre a velha disputa entre o pé que pisa e aquele que é pisado, tendo a ficar com este último. A sensibilidade de quem se julgou ofendido deve ser sempre levada em conta (e, por falar nisso, será que anões não gostam de ser chamados de anões?).

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Comentários
21 de agosto de 2009

Concordo em gênero, número e grau. Sempre deve ser levada em consideração, sempre.

Eduardo Freire
18 de agosto de 2009

Pois é, rapá. É sempre complicado definir um limite, principalmente para o humor. Mas continuo achando que deve ser levada em conta a sensibilidade de quem é atingido. Principalmente quando a piada trabalha com categorias genéricas: negros, homossexuais, árabes, judeus, alemães. abs.

Fernando Molica
17 de agosto de 2009

Pois é Molica. Assim como o Gentili, o Casseta & Planeta, recentemente, e que teve na figura de Hélio de La Penã um dos protagonistas na indignação diante da frase dita pelo humorista do CQC, também pisou feio na bola quando no quadro "Piada de Última Hora", soltou a seguinte pérola: "Jornalistas Gays Pedem a Volta do Canudo". Imbecilidade, preconceito e mau caratismo, que ninguém comentou, contra os jornalistas, que acabaram ridicularizados pela truculência de um supremo sem parâmetros, contra os homossexuais e, como você bem disse, contra o simples bom senso de entender que o humor não está acima do bem e do mal. Zero para Gentili e para a turma do Casseta.

Eduardo Freire
28 de julho de 2009

Talvez, Luciene, talvez. Mas, insisto: acho que é uma questão de sensibilidade, de história de cada um. Eu veria infelicidade no comentário do Gentili mesmo antes da onda do politicamente correto. Abraços. Ah, o Hélio de La Peña fez um bom comentário sobre o caso. Está em http://tvglobo.casseta.globo.com/helio-de-la-pena/2009/07/28/a-coisa-ficou-afrodescendente-para-o-humor-negro/ .

Fernando Molica
28 de julho de 2009

Chamar um gorila de jogador de futebol é racismo? Não vi onde ele citou a raça negra. Acho que todo mundo está mesmo buscando 'pelo em ovo' quando a questão é o politicamente correto.

Luciene