Poetas
Por Fernando Molica em 24 de abril de 2008 | Comentários (3)
Sou – mea culpa! mea culpa! – um mau leitor de poesia. Não é que não goste, é que tenho dificuldades para me adequar ao ritmo exigido pela leitura de um poema – mais lento e cadenciado, mais subordinado ao tempo determinado pelo autor. Leio prosa com muita velocidade, mas com freqüência tropeço na poesia. Talvez, no fundo, inveje o controle de tempo/ritmo dos poetas.
É possível que esta minha dificuldade tenha sido forjada há muitos anos, quando era aluno da Escola de Comunicação da UFRJ. Lá, a produção de poetas era intensa, um padrão que – em quantidade e qualidade – parece ter sido copiado pela atual indústria chinesa. Eram tantos os poemas (a maioria tão ruim…) que acabei meio cético e preguiçoso, vítima de uma espécie de overdose lírica.
Mas nos últimos dias tenho esbarrado em bons poetas: fui no lançamento do novo livro do Álvaro Miranda (“A casa toda nave cega voa”, 7 Letras), o Henrique Rodrigues colocou um site no ar (é só clicar aqui) e conheci a Paula Cajaty (autora da resenha sobre “O ponto da partida” que cito no post anterior). Assim, para redimir parte da minha culpa prosadora, colocarei, ao longo da próxima semana, um poema de cada um deles.
Por ordem alfabética, o primeiro é do Álvaro, velho amigo, com quem trabalhei em “O Globo”.
44
A casa o tempo o tempo a casa toda:
sempre a casa sem tempo casa vaga
nos meandros do tempo de seu vôo
a casa que se finca e nada guarda.
Rompe um dia raiz do solo tempo
casa antes tão gigante casa infante
e o tempo a casa toda na vacância
sem metro esquadro ou luz – ela outra e a mesma.
A casa temporal que é todo tempo
e depois estiagem sem ninguém,
casa-tempo, relógio de parede
nesse corpo-ponteiro que retém:
rugas e dobras, fuga deste anverso
espelho, velha face do silêncio.
Boa escolha... O Secchin também tem um poema lindo sobre a casa da infância, lindo mesmo. Mais tarde eu mando. Beijos,
paulaO livro todo é bem legal.
Fernando MolicaMuito bom poema.
Marcelo