Pornografia
Por Fernando Molica em 30 de novembro de 2009 | Comentários (0)
Devo estar ficando meio velho ou mais idiota. Mas confesso que poucas vezes vi algo tão nojento e terrível quanto as cenas daqueles sujeitos de Brasília pegando dinheiro – e orando, e colocando cédulas nas meias, e jogando a grana dentro da bolsa e fazendo cara de que tudo estava muito normal. Hoje cheguei a comentar no jornal que deveríamos repercutir o assunto com atores de filmes pornô: alguma vez eles teriam visto algo mais chocante?
Sempre me perguntei como um sujeito detentor de cargo público faria para receber um dinheiro indevido. Achava que a cena seria meio constrangedora. O corruptor entregaria uma mala ou um envelope? A entrega seria feita em mãos? Ou ele deixaria um pacote, assim como quem não quer nada, num canto do sofá? Como seria esse momento em que a corrupção se concretiza, quando o governante sabe que receberá uma vantagem indevida em troca de deixar de fazer, digamos, melhores escolas ou hospitais? O momento em que o governante sabe que o outro saberá que ele não presta, que é ladrão, desonesto, safado.
Ontem e hoje descobri que não há qualquer constrangimento. É algo simples, usual, faz parte do jogo político. Toma lá, dá cá. Tão simples quanto pedir um café ou pegar um ônibus ou fazer algum comentário sobre o tempo. Pegou, orou, colocou, jogou. Chega a ser banal.
Ah, mas os caras ainda conseguem fazer pior. Ainda cometem a canalhice de tentar explicar o inexplicável, o batom na cueca. Cornos que somos, ainda temos que ouvi-los dizer algo como “não é nada disso que vocês estão pensando”.