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“Predadores”


Por Fernando Molica em 29 de julho de 2008 | Comentários (0)

Terminei ontem a leitura das 545 (!) páginas de “Predadores”, de Pepetela, lançado por aqui durante a Flip. Bom? Ruim? Bem, mais ou menos. Se fosse ruim, eu não teria atravessado tantas e tantas páginas. O livro oferece um bom panorama da Angola pós-independência, mostra como uma nova elite foi sendo criada dentro e em torno da estrutura do MPLA, detalha os crimes e a cafonice de um novo-riquismo que emerge no novo país.

Isso tudo é legal, interessante, ajuda a entender um pouco o que se passa lá do outro lado do Atlântico. O problema do livro é outro. Os personagens são um tanto quanto esquemáticos. O predador-mor, o Vladimiro Caposso, é meio fdp demais, autoritário, corrupto, oportunista, sem qualquer escrúpulo. O Nacib, jovem idealista de origem pobre, apaixonado pela filha do VC, é um cara bem legal, sujeito boa-praça, esforçado, estudioso, meio bobão nas questões do amor.

Nacib não chega a ser um antagonista explícito do VC – os dois, se me lembro bem, nem chegam a ter algum encontro. Mas o gajo é uma espécie de antagonista moral do protagonista: de um lado, VC, o mal encarnado que corrói as esperanças de um novo país, da pátria socialista dos sonhos; do outro, o idealista e trabalhador Nacib. Um outro personagem, o advogado Sebastião Lopes, também surge para fazer contraponto a VC.

Posto em desgraça logo depois da independência – acusado de ter posições contrárias ao novo regime -, Lopes, pelo contrário, encarna os “verdadeiros” ideais do MPLA. Ex-amigo de VC, o reencontra lá na frente, quase no fim do livro: permanece pobre, advogado de pobres, mas é um homem honrado, ungido pela força de princípios. “Sentiu alguma inveja, há muitos anos ninguém lhe olhava daquela maneira, grata e humedecida, com respeito também” – neste trecho, Pepetela diz como VC se sente ao ver o respeito que pobres devotavam a Lopes.

Pois. O livro ajuda a entender Angola, a África e, de certa maneira, o próprio Brasil – há um pouco de VC no comportamento deslumbrado, corrupto e atabalhoado de muitos dos que chegaram ao poder no últimos anos. Mas “Predadores” fica a dever como literatura, arrisca pouco na tentativa de entedimento de homens e de suas contradições. O jogo não é tão simples, não se resume a bons e maus.

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