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Projeto Lima Barreto


Por Fernando Molica em 27 de janeiro de 2009 | Comentários (3)

“Essa expansão do metrô até a a Barra é um absurdo!” – a frase, dita pelo arquiteto e urbanista Sérgio Magalhães, me fez dar um pulo na cadeira. Como assim? Estender o metrô até a Barra me parecia uma solução óbvia. O Sérgio, carioca apaixonado, nascido no Rio Grande do Sul, explicou a razão de sua implicância. O dinheiro para as obras seria muito mais bem empregado na transformação dos trens suburbanos em metrô. Haveria mais conforto, menores intervalos entre os trens. Argumento definitivo: no subúrbio moram uns três milhões de cariocas; na Barra, uns 150 mil.

Conversa vai e vem (estávamos num bar do Jardim Botânico, comemorando o aniversário de um de seus filhos, o amigo Tiago Petrik), desandamos a falar de subúrbio, do abandono absurdo dessa área da cidade. Formulador do Favela-Bairro, professor da FAU-UFRJ, ex-subsecretário municipal de Urbanismo, Sérgio saiu rabiscando papéis que encontrava na mesa, provando como a recuperação dos subúrbios é viável e fundamental para a cidade – não dá para se falar no Rio sem se conceber o diálogo e a convivência entre as zonas Norte e Sul.

No meio da conversa, gritou-se o nome de Lima Barreto, jornalista, escritor, mulato e suburbano de Piedade (meus avós, minha mãe e meus tios moraram na rua batizada com seu nome, lá mesmo no bairro). Sérgio então saiu do bar, foi para casa e, na madrugada de hoje, criou em seu blog Cidade Inteira o Projeto LIma Barreto, um “movimento social pela recuperação dos subúrbios da Zona Norte”. Já pedi inscrição no Projeto, quero minha carteirinha. Por Lima Barreto, pelos subúrbios, pelo Rio.

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Comentários
29 de janeiro de 2009

Creio que essa linha de metrô paralela a linha amarela a que você se refere é a linha 6, que sairia do Tom Jobim e iria até a Alvorada passando por Penha, Madureira e cruzando a Baixada de Jacarépaguá. É, Molica. Conheço bem esse discurso contra a presença do suburbano nas praias da Zona Sul e da Barra. Discurso que acho tremendamente reacionário. Embora ainda exista racismo no Brasil, a maioria das pessoas tem vergonha de demonstrar racismo, até porque tá dando cana. Mas pouca gente tem vergonha ou medo de demonstrar preconceito social ou de classe, o que eu acho tão feio quanto o racismo. E é nesse preconceito social que esse discurso se baseia. Se o metrô sai tão caro assim, eu gostaria de ver uma estação de barcas perto do posto 8 e uma linha curta de ônibus integrando a estação ao terminal da Alvorada. O que não dá é pra só chegar na Barra de carro, ônibus ou a pé. Abração!

Diego Moreira
27 de janeiro de 2009

O importante, Diego, é que possamos discutir esses projetos para a cidade, que possamos pensar a cidade. POr exemplo: o povo da Barra (nada contra, meus pais moram lá) não gostou do projeto de um metrô (ou VLT, sei lá) que ligava o bairro aos subúrbios, uma linha meio paralela à Amarela. Algo que facilitaria a vida do povo que vai trabalhar na Barra. Mas muita gente - a maioria talvez - quer se ligar à Zona Sul, não quer a presença dos suburbanos (é só lembrar como Ipanema chiou quando o Brizola inaugurou linhas de ônibus que faziam, pelo Rebouças, a ligação com São Cristóvão. Teve gente que, de cara limpa, defendeu que a linha não funcionasse aos fins de semana, pra não encher a praia de suburbanos!). . De uma certa forma permanece a idéia de diferentes cidades dentro de uma mesma cidade, o que é ruim pra todo mundo. Abraços.

Fernando Molica
27 de janeiro de 2009

Mas que maravilha, Molica! Eu, suburbano até as tripas, estou encantado com a ideia. O subúrbio está abandonado há tempos. Venho defendendo em meu blog (http://geografiassuburbanas.blogspot.com/) uma revitalização desse espaço da cidade. A prefeitura, que não recolhe IPTU em diversas áreas - que são de risco - no subúrbio, simplesmente parece ignorar a existência daquelas bandas. Concordo que o investimento nos trens de subúrbio para transformá-los em Metrô é importante. Mas a Barra da Tijuca configura, hoje, como dizia meu bom mestre Milton Santos, uma nova centralidade na cidade. Tem cada vez mais gente saindo do suburbio pra ir trabalhar na Barra fazendo esse movimento pendular diário. Para esse suburbano, e eles são muitos, o metrô na Barra é fundamental. Mas eu entendo o seu amigo Sérgio. Honestamente prefiro a ligação com a Barra através de Barcas. Muito mais barato do que o Metrô. Mas há que se lutar contra a pressão do capital imobiliárioque nãoquer estação de barcas na sua praia. Desculpe se escrevi demais, mas é que o tema me interessa muito. Abraços!

Diego Moreira