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Pur-tu-gal (3) – O tráfico, lá e cá


Por Fernando Molica em 04 de junho de 2008 | Comentários (0)

Em quatro ou cinco dias em Lisboa recebi várias – seis, sete ou oito – ofertas para compra de drogas. As abordagens eram sempre do mesmo jeito: um sujeito, no meio da rua, vinha na nossa direção e balbuciava algo como “hax, hax” (haxixe) ou “marijuana, marijuana” (maconha). Acho que também ouvi uma proposta para compra de cocaína, mas não entendi bem – e, já meio escolado, não pedi pro cara repetir o nome do produto, tratei de driblar o vendedor e sua oferta.

As propostas aconteceram à noite e durante o dia em áreas centrais da cidade, como a Baixa e o Bairro Alto (espécie de Santa Teresa da capital portuguesa), locais movimentados, freqüentados por turistas e moradores de Lisboa. Ou seja, há venda de drogas por lá e a abordagem dos supostos consumidores é feita de forma muito mais explícita da que ocorre no Rio – não me lembro de algo semelhante ter ocorrido comigo por aqui.

O comércio de drogas não quer dizer que Lisboa seja violenta – não tínhamos o menor problema em circular a pé pela cidade, inclusive durante a noite, até mesmo na tal Santa Teresa deles. A questão é simples: tráfico de drogas existe, em diferentes versões e intensidades, em qualquer lugar do mundo, isso não é novidade. O absurdo é que, aqui no Rio, venda de drogas acabou associada ao uso ostensivo de armas de guerra em zonas urbanas e ao domínio territorial de áreas populosas da cidade.

Esses dois fenômenos – armas e dominío territorial – só prosperaram porque, mais do que incompetência, houve parceria de setores importantes da sociedade: principalmente, de policiais e de políticos. Esse assustador jabuti só subiu na árvore e ficou lá em cima porque alguém – muita gente – lhe ajudou na escalada e na permanência. Sem esta ajuda, o jabuti teria ficado no chão, oferecendo seus produtos como um camelô assustado.

Pior: a lógica do domínio territorial se expandiu, as tais das milícias provam isso. O gravíssimo e absurdo episódio da tortura à equipe de “O Dia” e a um morador da favela do Batan deve servir de ponto de referência para uma mudança radical na maneira de encararmos essa situação. Acabar com a criminalidade é algo meio utópico, garantir o controle do território é uma obrigação do Estado. Um Estado – Estado aqui no sentido amplo – que não consegue afirmar sua presença no Rio de Janeiro não tem sequer o direito de arrotar algum tipo de soberania sobre a Amazônia. É fundamental tirarmos o jabuti da árvore.

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